quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Conversa de salão
É difícil ter assunto com manicures, porque ultimamente estou por fora das novelas, fofocas de artistas e últimas tendências da moda do cabelo. Com algumas, vez ou outra, rolam assuntos interessantes fora desse círculo.
Ontem foi um desses casos. A história era de amor. E eu adoro ouvir histórias de amor.
O sotaque já é uma introdução de quebra-gelo. Veio ao Rio porque namorava um menino do Rio. Casaram-se. Mas como se conheceram? Num site de internet “bagaceiro”, segundo sua própria definição.
Na cidade de onde veio, também trabalhava com beleza, mas em uma clínica de estética que era sua e de sua irmã. Ia andando para o trabalho... Levava dez minutos em uma calçada que era só dela.
Num dia de chuva, as clientes desmarcaram e ela decidiu se aventurar em um site. Naquele momento, ela ainda era Betânia e ele, Daniel. Conversaram, trocaram fotos e começou um contato intenso. Ele iria ao sul conhecê-la, mas, no fim das contas, se enrolou e acabou enviando a passagem para que ela fosse ao seu encontro.
Precavida, pediu todos os documentos do moço e um amigo delegado verificou que era uma pessoa sem passagens policiais. Depois desse encontro, vieram outros tantos durante dois anos, até que veio a proposta de casamento.
Ela mudou de cidade (estado e região) junto com a filha (não quis entrar em detalhes, mas o cara se da super bem com a filha de seis anos, que o chama de pai), deixou de ser dona para ser funcionária em um salão no centro da cidade, encara duas horas em trânsito para ir ao trabalho e mais duas horas para chegar a casa. Mas diz que ele é um achado. E que a vida é isso, tem que viver. E que se tivesse chance de viver de novo essa época da vida, faria tudo de novo.
Contou-me tudo isso enquanto fazia a minha unha, com o belo sotaque de Porto Alegre e um sorriso leve e inspirador.
Sobre o Japao.... I
- Para aproveitar a diferença do fuso, estamos acordando 6am, tomamos café da manhã...e rua. Passeamos o dia inteiro e chegamos de volta ao hotel, já de noite, mal conseguindo andar de cansados...
- Mas, peraí! Todos os dias vocês acordam cedo assim?
- É.... Minha vida é difícil.
- Gente, isso é pior que trabalhar!
sábado, 17 de outubro de 2009
...
Atitude inesperada e sem direto à réplica. Quase um bombardeio.
Sumida - sim, ando sumida.
Viagem se aproximando, trabalho da pós e novidades. Tudo junto.
Alguns amigos para encontrar, dar conselhos, fofocar.
Ela também andou recebendo visitas, tem aula terças e quintas. Terapia às quartas.
Ela não quis ir ao circo, também não quis ir ao show.
Poderia dizer: saudade. quando vamos nos encontrar?
Poderia dizer: tá tudo bem?
Poderia ainda dizer: estou triste, ando precisando de mais atenção.
Mas disse tantas coisas e com tamanha rapidez que mal consigo lembrar as palavras.
Quase indignação por coisas da vida. Quase infantil, eu diria. Bom, eu disse.
Ela que durante meses não teve tempo nem para um café.
Eu que já pensei tudo o que ela disse tantas vezes.
E que nunca disse por entendimento.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Era pra ser.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
... um dia em terras pernambucanas.
e de que ainda tens uma saída
entrar no ACASO e amar o PROVISÓRIO"
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Sobre não escrever
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
(des) apego
Por hoje, ela conseguiu.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Sexta antes de tudo
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Gerenciando diferenças culturais no mundo globalizado
Como sempre, alguma história vem à mente. Já estava morando na Cidade do México, trabalhando no Departamento de Compras, em que a maioria dos fornecedores era judia. Estávamos recebendo muitas visitas, pois era época de compras para a próxima temporada. O cumprimento usual era o burocrático aperto de mão.
Um dia como qualquer outro, recebendo um fornecedor como qualquer outro – foi o que eu pensei, eis que eu estendo a minha mão para cumprimentá-lo e fico em um vácuo terrível. Tratava-se de um judeu ortodoxo. Mal-estar! Fiquei mal, não há pior sensação do que ser propositalmente ignorado.
Quem está certo, quem está errado? Ninguém está certo e ninguém está errado. Ao mesmo tempo, não existe um modo de “como agir nesses momentos”. Eu era latina, estava no México onde é sinal de educação e respeito cumprimentar o outro com aperto de mão. Ele, judeu, também estava no México e, por uma questão religiosa, não podia encostar em uma mulher fora do seu núcleo familiar em período menstrual. Na dúvida, não podia encostar em nenhuma. A religião de alguma forma acaba sobrepondo o social.
Respeito. Respeito é algo que deve existir entre culturas. Entendimento e compreensão, ainda que não haja concordância. O fato é que no dia-a-dia tudo isso fica complicado, pois ainda não se sabe como gerenciar essas diferenças na vida prática.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Almoço de sábado
Mãe e filha cozinham juntas para o almoço de sábado. Steak de frango à parmegiana. A mãe havia começado e era ela quem comandava o desenrolar dos preparativos.
Mãe: Pode colocar o molho de tomate sobre os steaks.
Filha: Com a concha?
(Risos)
Mãe: Você tinha parado.
Filha: Parado de que?
Mãe: De fazer perguntas idiotas.
(Mais risos. Agora das duas)
Sobre sexta...
- Pergunta se eles entregam em casa.
Chegando ao bar, ela pediu as cervejas e focou no moço logo ali ao lado que virou um copo inteiro de cerveja cheio de cachaça. Ficou observando aquela cena e esqueceu-se de perguntar. O que era mesmo?
As cervejas se abriram, a música ficou mais alta e, de repente, mais dançante. Os ânimos melhoraram quase que por um milagre. Toma banho, escolhe roupa. Pode? Pode. Pode tudo. Mais cerveja. A noite sorri.
E foi. Dali para o bar. Do bar para o show. Do show para a festa. E da festa pra onde mesmo?
terça-feira, 4 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
So, so...
É como se a gente
Não soubesse
Prá que lado foi a vida
Por que tanta solidão?
E não é a dor
Que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão...
Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou...
É como se a gente
Pressentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou o medo de ficar
Vazio demais meu coração...
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Coisas de mummy...
Ela: Por que não vende cachorro-quente na praça?
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Grata.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Festa dançante
- Sim, sim, eu entendo.
*********************************************************
- Eu nunca te vi tão feliz.
- É eu estou feliz. – (Pausa) – Hoje estou enterrando um amor.
(Abraço)
(Dança)
- Vou pegar mais uma cerveja.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Hide and Seek
Decepção. Sim, foi decepção, mas não foi morte. Não foi fim. Sente-se como se o sentimento em coma ensaiasse um arrastar pelo chão; distraído, como quem aprende a caminhar.
Como podemos esconder tão bem os sentimentos? Escondemo-los até de nós mesmos a ponto de acreditar com veemência que não existem mais. Será possível escondê-los por toda a vida ou será que sempre será chegado o momento em que eles lhe surpreendem, vivos e sóbrios? Por quanto tempo conseguimos ocultá-los a fim de nem percebê-los?
Mentimos tanto para nós que chegamos a crer que se extinguiram por completo, com tanta competência a ponto de nem mais senti-los. E, de repente, ele se revela.
terça-feira, 14 de julho de 2009
O Quereres - Caetano Veloso
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim
quarta-feira, 8 de julho de 2009
TANABATA: o encontro das estrelas
No dia do Tanabata, costuma-se escrever os pedidos e desejos em papéis coloridos (tanzaku) e amarrá-los nos bambus. Cada cor representa um tipo de pedido:
Amarelo: dinheiro
Azul: Proteção dos Céus
Branco: Paz
Rosa: Amor
Verde: Esperança
Vermelho: Paixão
A lenda diz que todos os desejos são atendidos no momento mágico do encontro entre Orihime e Kengyu.
É ou não é fofo?
segunda-feira, 6 de julho de 2009
quarta-feira, 1 de julho de 2009
( )
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Tarde de domingo...
O encontro foi alegre, de duas pessoas que muito se conhecem, mas que estavam de férias de si mesmas. As conversas fluíram como manchetes de jornal. O Mac book recém comprado. Ou book Mac. Na verdade, pouco importa a ordem. Existem coisas que são fodas por si sós. Independentemente do conhecimento de quem relata ou do entendimento de quem ouve. Mac é Mac. E Mac é foda.
O reencontro teve um desenrolar leve, com luzes de uma tarde de domingo feliz. Daqueles em que se iniciam muitos assuntos e terminam-se poucos - eufóricos, eles se atropelam saltitantes. O café, a pipoca, o filme. O filme foi bom. Mas não falamos do filme quase nada. Antes que ainda pudéssemos digeri-lo, estávamos as duas enlouquecidas pelas etiquetas vermelhas das lojas em rebaja.
-Eu não conhecia esse seu lado consumista, disse. O fato é que a euforia se prolongou por mais algum tempo, quando consentimos que era hora de ir embora. A despedida foi súbita e ainda eufórica.
Querida, o (re)encontro foi foda.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Heal the world
Isso me remeteu a uma história dos Mamonas Assassinas. Na época, lembro-me bem da professora de português fazendo duras críticas ao grupo. O português incorreto poderia influenciar crianças e adolescentes a falar errado. Um absurdo, dizia. O acidente fatal chocou todo o país. O choque da impermanência no auge de sua carreira entristeceu principalmente crianças e jovens. A mesma professora lamentou na aula seguinte a tragédia que silenciou o país. Então, a aula foi inteira dedicada à alegria, irreverência, descontração e energia que as músicas em português assassino traziam para o dia-a-dia do povo (tão sofrido) brasileiro.
É curiosa essa mudança de visão repentina após a morte. Depois que a pessoa já não pode mais absorver as críticas, elas subitamente se extinguem. As pessoas, a mídia e a opinião pública pegam pesado no pré-julgamento e no julgamento em si. E, frente à morte, esse julgamento vai por água abaixo. Não que todos fiquem bons depois de mortos, mas é como se, depois de mortos, já não faça tanto sentido criticar. Por que não olhar diferente, por que esperar a morte chegar, por quê?
Não supervalorizemos os fatos nem depreciemos tanto as pessoas.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Eu tentei. Repito que tentei. Ah, como eu tentei! A vontade, no entanto, depende também do outro. Da resposta do outro, da vontade do outro, do silêncio do outro. Mas eu tentei, eu juro que tentei. O muito que excede o nosso limite talvez seja pouco. Mas a tentativa frustrada conforta quando não há mais nada o que fazer. Pode ser que tudo tenha mesmo o seu tempo. Tempo de nascer, existir e morrer. Ciclo que se encerra. Será? Não sei, sei apenas que tentei. Eu liguei, eu escrevi, eu mandei. Li essa semana que julgamos os outros pelos resultados e a nós mesmos pelos projetos. Será que ando querendo justificar a minha inércia frente às tentativas vãs? Mas nem tudo é projeto, apenas um querer. E o querer envolve o querer de outrem. E a vontade se esvai quando as tentativas se cansam e decidem que é hora de parar.
terça-feira, 16 de junho de 2009
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Menino Travesso
Pássaro voa, voa, voa...
Mente fértil, corpo leve
Só riso. Sorriso.
Que vida ocultas nas lacunas de SILÊNCIO que alternam os nossos encontros?
domingo, 7 de junho de 2009
terça-feira, 2 de junho de 2009
Esse ou aquele?
Passado o baque, penso como a vida é breve. Não há planejamento que resista ao acaso ou ao destino, seja lá como se chame. Vida interrompida em poucas horas. Não somente em desastre aéreo, muitas pessoas morrem todos os dias no mundo por razões de toda sorte. Mas o desastre aéreo, assim como outras grandes catástrofes, acaba roubando a cena pela grandiosidade e pelo sofrimento coletivo. Chora-se por eles, chora-se por si.
Estarei vivendo como quero? Estarei cuidando das pessoas que eu amo com a dedicação que deveria? Poderia ir conhecer aquele país, mudar de profissão, correr atrás do amor perdido... É clichê, assunto batido, mais do mesmo. Mas é inevitável levantar questões que deixamos para pensar depois, fazer depois, ligar depois, amar depois. A falta de entrega, de dedicação, de humor, de bom senso. A falta de cuidado com os outros e consigo, de carinho, de atenção.
Irrita-se por pouco, reclama-se por nada e a vida vai passando.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Para Vanessa Pessoa
Enfim recebo alguma notícia sua. Ainda que seja um pequeno manifesto em tom de brincadeira. Foi uma bela surpresa. Ando com saudades suas, com homenagem em site de relacionamento, tentativas de breves papos em chats, comentários em blog... Enfim, meios da modernidade.
Sei que a vida é complexa – além de curta - e temos os nossos momentos, planos e, principalmente, transformações. Saudade dos cafés, de compartilhar planos futuros e presentes, saudade da sua poesia e da luz vibrante das suas palavras ditas com entusiasmo.
Mas sempre resta a certeza do vivido. Nesses casos, o passado é um excelente analgésico para a dor da saudade. Da crise de riso, das cartas além mar, dos cartões-poesia, do cotidiano distante e sempre tão presente. Saudade do seu riso, da sua força, do seu apoio e da sua leveza. Sim, leveza. Quando não está leve, eu sei que você nem sai de casa.
Lágrimas rolando...é hora de encerrar. Ando sensível. Deixo aqui o meu ‘Para Vanessa’, sem muita inspiração, porém com o saudosismo que há tempos anda me perseguindo.
No aguardo do próximo café.
Um beijo,
Celinha_s
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Menina chorando e menina sorrindo...
http://longitudequarentaetres.blogspot.com/2009/05/perdidos-na-selva-de-pedra_27.html
A menina chora e ri.
Chora quando a realidade lhe dá um tapa na cara.
Daqueles bem estalados.
E chora também quando o tapa é no outro
E ela, frágil e impotente, nada pode fazer
Contra a mão pesada que lhe rouba a respiração
A menina sorri quando vê passarinho cantando,
Quando a rosa desabrocha
E quando toma sorvete de chocolate.
A menina sorri quando vê outra menina.
A menina sorri quando vê um cachorrinho serelepe.
A menina sorri. E chora.
E aprende um dia
Que o riso e o choro não apenas coexistem
Mas que a existência de um só é possível
Com o silêncio do outro
terça-feira, 26 de maio de 2009
Mais de uma verdade que não pode ser banalizada
Lembro-me da primeira vez que eu vi algo parecido com isso. Faz muitos anos. Um carro de polícia fazia uma ronda de madrugada pela cidade. Os policiais, com as armas para fora do carro, sem nenhuma razão aparente. Aquilo me chocou, perguntei-me a necessidade daquele show ao vivo e gratuito. E continuo buscando a resposta.
Pergunto-me ainda quantas pessoas ainda morrerão de bala perdida. Quantas terão as suas vidas marcadas por um segundo de horror. Quantas mães, pais, irmãos e amigos enterrarão pessoas queridas sem motivo. Quantos policiais inocentes ainda morrerão pelo simples fato de serem policiais. E quantos policiais mais se deixarão corromper. Pergunto-me quanto vale a vida, se morrer é de graça.
Penso em ir embora. Seria uma fuga talvez, pela própria segurança e bem estar. Mas contesto uma vez mais porque eu tenho que sair viver longe de onde eu gosto e das pessoas que eu amo. Por quê? O que foi que eu fiz para que a situação chegasse a esse ponto? Agora me pergunto o que foi que eu não fiz.
Pergunto-me até quando as pessoas chorarão em silêncio. Pergunto-me como querer ter filhos, se não podemos proteger nem a nós mesmos. Até quando esperaremos que a violência bata à nossa porta para que tomemos alguma atitude. Não encontro respostas, nem explicações.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
(...)
Se azedo ou amargo
Se frio ou se quente
Se chuva ou se sol
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora
A cada viagem, uma despedida
Encontro e desencontro
Chegada e partida
Uma noite perdida
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora
Se mudo ou se sigo
Se dentro ou se fora
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Por um fio
Uma das histórias que mais me marcou foi a de um homem que descobriu uma traição de sua esposa e decidiu continuar casado. A vida então passou, o casamento nunca foi o mesmo, baseado em comodidade, aparências e sem entrega. Uma ferida que nunca fechou. Depois de receber a notícia de que a sua vida estava chegando ao fim, decidiu se separar, conheceu uma mulher na sala de espera do consultório e padeciam do mesmo tipo de câncer. Que coincidência é o amor! Apaixonaram-se loucamente e estavam vivendo os melhores momentos de suas vidas.
Dentre muitas questões que o livro levanta, com sensibilidade e sabedoria, existe uma que me marcou mais. Será que somente com a chegada da morte é possível viver de verdade? Será que é necessário que o fim seja anunciado para ter coragem e arriscar (-se)?
O medo chega em momentos desconhecidos, onde há fascínio e mistério, mas traz consigo uma pitada de insegurança. Muitas vezes, essa insegurança nos faz retroceder, reprimir sentimentos, desistir de tentar, voltar à nossa vida calma e segura.
A vida então mostra-se contraditória. Enquanto a temos com a sensação de eternidade, tudo é vivido com calma, com um certo comodismo e na busca constante de estabilidade emocional. Quando ganhamos um prazo, as perspectivas mudam e fica a sensação de jogar tudo para o alto e viver como sempre se quis.
O que você faria se o sol não nascesse amanhã?
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Sobre o turismo da pobreza e o embelezamento da miséria
Turistas não são antropólogos. São apenas turistas, querendo aprender a cultura, a história ou simplesmente descansar. Antropólogos podem ser turistas, mas turistas não são antropólogos. Enfim, fico confusa com essa história toda. Porque além dos que querem de fato entender alguma coisa nessas três horas sobre a sociedade brasileira, a desigualdade e o tráfico - o que eu duvido que seja possível-, fico imaginando que tipo de fascínio existe em ver de perto o quão triste é a realidade do nosso povo.
Lembrei-me de duas situações ligadas a esse tipo de turismo. A primeira foi quando fui a Amsterdã. Da famosa Red Light zone eu não cheguei nem perto. Por quê? Simplesmente porque não estava a fim de ver meninas e mulheres sendo ofertadas em vitrines como carnes de açougue. Há quem diga que existem putas felizes e que realmente gostam do que fazem. Mas a maioria... A maioria, eu duvido. As pessoas são sentimentos no fim das contas. Existem coisas com as quais nunca nos acostumamos.
A segunda situação foi no México. Em Creel, uma cidadezinha no estado de Chihuahaua. Fizemos o passeio de trem de Los Mochis à cidade de Chihuahua, passando pelos cânions de cobre. Desembarcamos na cidade de Creel, em que aproveitamos para fazer alguns passeios nos dias seguintes. Em um dia visitamos os Tarahumaras, uma aldeia indígena bem pobre como a maioria das aldeias remanescentes. O turismo na aldeia dos Tarahumaras é incentivado pelo comércio de seus artesanatos para ajudar com que tenham uma vida mais digna. É incentivado pela divulgação de suas culturas e seus valores. Há um museu na cidade com a história e costumes. A pobreza foi conseqüência da colonização espanhola. A aldeia não nasceu da pobreza, surgiu de mistérios de muitas teorias, porém nunca desvendados. Não explora a miséria, nem cultua a pobreza.
No dia seguinte, fizemos um passeio que incluía vários pontos turísticos da região. Depois de ver lagos, cachoeiras e muito verde, enfim paramos na última atração do dia. Passamos por uma grade e chegamos a grandes pedras com uma pequena entrada. Quando entramos, eis a surpresa. Uma família vivia ali. No exato momento em que me dei conta, saí daquele lar com náuseas. Quando o guia disse que iríamos visitar uma casa construída sob pedras, pensei que se tratasse de uma forma de construção própria da região. Jamais havia passado pela minha cabeça que uma família miserável, sem ter o que comer ou onde morar, alojou-se entre duas pedras enormes, sem a menor condição de vida. Mãe e filha sorriam para nós e pediam esmolas.
Mas, sem muitos argumentos, não sei exatamente o que me incomoda nessa história toda. Sei que não concordo. Sei que me faz mal pensar em participar e contribuir para esse tipo de turismo. Sei que me dá vontade de correr quando vejo algo parecido na minha frente. Talvez seja apenas questão de valores que eu ainda não tenha conseguido desvendar em argumentos.
domingo, 10 de maio de 2009
(...)º
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Quero Encontrar Um Amor
na porta pra entrar
aquele que não exita em espantar a visita que me visitar
que seja um cordeiro e que seja um leão
um bicho do mato e de estimação
e pode ser que me queira
ou me faça dormir na esteira estinda no chão
quero encontrar um amor misto de samba leve com heavy metal
que ponha as unhas de fora
mas no "H" da hora me venha total
que tenha um ar diferente do meu
que seja um canal aberto pro céu
e sempre na geladeira um vinho de primeira roubado da adega de Deus
Roubado. . . ououou
quero encontrar um amor que só tenha motivos para me evitar
algo de fundod e breque um jeitão de moleque, trajes de escolar
Um CDF e um fora da lei
aonde encontro este amor eu não sei
é num barzinho lá em cima ou na próxima esquina
eu só sei que eu encontro o meu bem
(Sérgio Sampaio)
quarta-feira, 6 de maio de 2009
A que vim
O que mais me encanta em viajar?
*crianças falando outros idiomas ou outros sotaques.
*conversas casuais.
*descobrir o gosto do prato somente quando ele chega à mesa.
*ver a cidade estranha transformando-se em familiar.
*encontrar o cantinho preferido em cada lugar.
*a preparação da viagem, expectativas e sonhos.
*testar novos meios de transporte.
*observar.
*o inesperado e o improviso.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
A ti
Como el aire conoce al viento
En un instante se enamora
En el otro se evapora
Por el sencillo lenguaje del alma
Que entre dos miradas se reconoce
El sentido de la ola que se espalma
Y en el mar, el silencio
Solo y sin prisa
Camina por la arena
Breve y grave
El corazón se lo llena
Del pulsar ofegante
De la cumplicidad del amante
De la lagrima de la gran tristeza
Que se diluye jadeante
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Me da um doce?
Eis a cena que me chamou atenção: um menino aparentando no máximo seis anos, maltrapilho, olhar baixo e triste, pedindo ao ambulante um doce. O senhor de mais idade tentou resistir, resmungou que seria o último e entregou o doce ao menino.
Uma cena me veio à cabeça de imediato. Há nove anos, chegando ao hospital em que nasceria a minha irmã temporã, meu pai começou a contar que estava conversando com outro futuro-recém-pai preocupado com a chegada do novo filho. Era o segundo e sustentar um só já estava difícil.
Eu, que apenas começava a trabalhar, tinha um entendimento um tanto limitado em relação a dinheiro e custos de verdade. Ele me disse: Imagina como deve ser difícil para um pai ver um filho pedir um sorvete e não poder comprar?
Criança gosta de sorvete e de doces. Criança gosta de brincar, de pular, de rir e ver televisão. Às dez da noite, deve estar recolhida na segurança do lar e sob a proteção dos pais. No entanto, ali estava ele, descalço e sozinho, no terminal de ônibus suplicando ao ambulante o último doce do dia.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
O que você faria se o sol não nascesse amanhã?
Talvez olhasse mais para o lado
Talvez a despedida não fosse tão repentina
Pela certeza do próximo encontro
Um tchau meio de lado
Beijos soltos ao vento
- Até amanhã!
O que você faria se o sol não nascesse amanhã?
O tempo é traiçoeiro
A vida é traiçoeira
Um. Segundo.
E o próximo não mais existe
O que você faria se o sol não nascesse amanhã?
“Cuidar das pessoas enquanto estão vivas"
Frase sábia
De quem já viu muita coisa acontecer nessa vida
Nesse mundo doente
Nesse mundo sem rotação
Nesse mundo concreto
Que se desfaz de repente
Vida. Tempo. Vida.
A vida é curta.
Curta é a vida
Para ser pequena.
(pequeno plágio por uma boa causa)
sexta-feira, 24 de abril de 2009
(...)
Na inércia da palavra não dita
Em cada sonho tido em vão
No olhar perdido no infinito de si mesmo
No sono profundo das madrugadas insones
No tido por não tido
No dito desdito sem ordem ou avesso
Há algo que brilha, vibra, transpõe, contradiz
Impõe.
Há algo adormecido que abre os olhos assustado no meio de um pesadelo necessário
No limite que em si transcede
Há um sentido que transborda o silêncio do sonho e da luz
terça-feira, 7 de abril de 2009
Como se os pés não tocassem o chão...
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Entre umas e outras II
“Torna-te quem tu és.”
“Tudo que não me mata, me fortalece.”
“Achará que jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as ações são autodirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo amor é amor próprio.”
“...concentrar-se demais no ataque, forçando-o para além de suas próprias linhas de suprimento, e ignorar sua defesa, até, como um raio, a rainha do pai atacar por detrás das linhas e ameaçar o xeque-mate.”
“O desespero é o preço pago pela autoconsciência.”
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Entre umas e outras
“os medos não brotam das trevas; pelo contrário, eles são como estrelas: estão sempre ali, mas obscurecidos pela luz do dia.”
“É preciso ter o caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante.”
“Não tomar posse de seu plano de vida é deixar sua existência ser um acidente.”
“...o crescimento é mais importante que o conforto.”
segunda-feira, 30 de março de 2009
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.
Martha Medeiros
domingo, 29 de março de 2009
O show tem que continuar...
quarta-feira, 25 de março de 2009
É na Dança que a verdadeira democracia se manifesta (com D maiúsculo também)
segunda-feira, 23 de março de 2009
A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação.
Se você quer ser um bom universitário, mate dentro de você o secundarista aéreo que acha que ainda tem muito tempo pela frente.
Quer ter um bom relacionamento, então mate dentro de você o jovem inseguro ou ciumento ou o solteiro solto que pensa poder fazer planos sozinho, sem ter que dividir espaços, projetos e tempo com mais ninguém.
Enfim, todo processo de evolução exige que matemos o nosso "eu" passado, inferior.
Muitas pessoas não evoluem porque ficam se agarrando ao que eram, não se projetam para o que serão ou desejam ser.
Acabam se transformando em projetos inacabados, híbridos, adultos infantilizados".
Podemos até agir, às vezes, como meninos, de tal forma que não matemos virtudes de criança que também são necessárias a nós, adultos, como: brincadeira, sorriso fácil, vitalidade, criatividade etc.
Quer ser alguém (líder, profissional, pai ou mãe, cidadão ou cidadã, amigo ou amiga) melhor e mais evoluído?
Pense nisso e morra! Mas, não esqueça de nascer melhor ainda!
sexta-feira, 20 de março de 2009
Conjuntivite antecipada - Para Renata e Sara (em ordem alfabética)
E aqui estou em casa, em pleno dia útil, tratando de uma conjuntivite que vocês inventaram que um dia inventei.
Sobre o Deserto (com D maiúsculo)
quarta-feira, 18 de março de 2009
Beatrice e Pablo
Buscava um canto onde refugiar-se para tomar a primeira cerveja. Ela estava sozinha. Encontrou um lugar que a aguardava tão solitário quanto o seu olhar. O canto é sempre tão mais aconchegante, pensou. Como se as paredes ao seu redor oferecessem os ouvidos para os seus lamentos e as suas costas como apoio.
Buscou uma cadeira com as mãos e delicadamente cruzou as pernas. Pediu uma cerveja preta. A tristeza a consumia por dentro, mas tratava de dissimulá-la em um tímido sorriso. Com o primeiro gole, lhe escorreu pela garganta todo o sangue de ódio pelas palavras recém ouvidas. Os olhos estavam distantes, porém ela estava ali. Imóvel. Uma voz conhecida cortou o silêncio em que se encontrava:
- Vamos dançar, Beatrice?
Era Pablo, um velho conhecido de gafieiras freqüentadas há tantos anos que já havia perdido a conta de quanto tempo fazia.
Respondeu com um olhar de consentimento, colocou delicadamente o copo na mesa mais próxima e levantou-se. Recobria pouco a pouco a audição que lhe fora roubada pela melancolia. As pessoas no salão voltaram a ter formas e cores. Depois de três passos, explodiu em seu rosto um radiante sorriso. O primeiro sorriso sincero nos últimos três anos.
terça-feira, 17 de março de 2009
Adoçante
Hoje descobri que estou um desastre na cozinha.
Fazia tempo que não resolvia aparecer neste cômodo da casa para colocar as mãos na massa, foi hoje!
Cheguei lá, achei comida preparada por minha mãe preta e decidi que não era isso que eu queria. Queria comer alguma coisa que eu considerasse saudável, que fosse fácil de fazer e que me fizesse sentir bem, leve.
Olhei a geladeira...
Olhei a fruteira...
Olhei o armário...
Claro que não ia me atrever a ir ao fogão. Tempos atrás tinha mais intimidade com ele, mas hoje! Desastre!
Então, de acordo com minhas opções, falta de criatividade e disposição para ser mestre-cuca, resolvi por fim que o ideal seria uma vitamina.
Frutas e frutas no liquidificador. ha ha ha
Para qualquer pessoa isso é fácil e eu nunca errei uma vitamina antes...
Estava tão feliz! Tinha laranja, então não precisaria usar leite. Leite não daria a leveza que eu estava procurando.
Peguei duas laranjas, uma banana e meio mamão.
Cortei as laranjas ao meio e espremi com a mão mesmo, não queria ofender demais meu alimento, queria que ele se sentisse desejado por mim. Claro que sobrou muito suco no bagaço.
Nem escolhi a banana porque estavam todas muito parecidas. Cortei com cuidado e coloquei no liquidificador.
Meio mamão.
Bati.
Ficou quase um patê.
Dei uma analisada e constatei que beber minha vitamina de colher não era minha intenção.
Coloquei água...nem pensei q banana e água não combinam, não sei porquê, mas disso eu sempre tive certeza.
Ficou aguado.
Após uma pequena reflexão, não poderia me deixar vencer. Era uma mistura simples.
Peguei mais uma laranja e espremi só a metade ali, sem nenhum amor dessa vez.
Eu não usava aquele liquidificador fazia tempo - isso se um dia usei - e toda vez que precisava provar a vitamina aquele copo não saia da base de jeito nenhum.
Foi após a última metade de laranja que o liquidificador me deu um golpe.
Eu tinha tirado a tampa para ver a consistência da vitamina e tentar me confortar que seria daquele jeito mesmo. Coloquei até adoçante para não dar o braço a torcer. (Tudo que é doce é melhor, mas se estivesse ruim a culpa seria do adoçante que sempre deixa um gosto de remédio)
Na luta com o copo e base, eu estava distraída. Foi quando pelo menos um quarto da mistura, passou voando ao lado do meu rosto (Que sorte, porque tinha acabado de lavar o cabelo) e se espalhou no chão branco da cozinha, que por sinal é toda branca.
Fui correndo limpar. Mesmo não tendo mencionado, estou com um tipo de TOC, lavava a mão entre uma laranja e outra e a cada 3 minutos.
Limpei tudo.
Decidi beber o que sobrou.
E pensei que, com certeza, o gosto era do adoçante.
Epidemia vermelha à vista
Fui ao oftalmologista no Largo do Machado. O diagnóstico popular fora certeiro. Saí de lá com quatro dias de afastamento do trabalho e dos estudos.
Peguei o metrô de volta ao Centro. Já eram seis da tarde, hora do caos para quem se aventura ir da Zona Sul à Zona Norte. Quando entrei, o vagão já era uma lata de sardinha quase completa. Desequilibrei-me por alguns instantes enquanto os meus olhos buscavam rapidamente algum apoio. Foi quando veio a voz que dizia:
- Pode segurar no meu braço, não tem problema.
Eu, meio desajeitada e ainda pensando na conjuntivite recém-diagnosticada, consegui me apoiar na barra mais próxima, entre esbarrões acidentais e pedidos de desculpas às pessoas pelo caminho. Imagina segurar o braço de um estranho! Só mesmo em casos emergenciais, pensei.
Observei silenciosamente o guardião daquela voz. Alto, careca, pêlos nos braços, sapatos desbotados, camisa listrada e um perfume de quem acabara de sair do banho. Lia um livro de bolso. Eu, de óculos escuros, me entortei para um lado, me entortei para o outro, mas não consegui ler nem o título do livro nem o autor. Apenas vi que começava com V. Seria Vinícius? Sorri por dentro.
- Que saco! - pensei, sem saber exatamente o motivo.
Sempre invejei os que conseguem ler em pé.
A cada estação entravam mais e mais pessoas. Lembrei-me de uma vez em que quase não consegui descer na estação de destino por estar justamente na porta oposta à da minha descida.
Olhei para o careca e interrompi a sua leitura sem cerimônias.
- Você sabe qual é o lado que se desce na estação Presidente Vargas? – arrisquei.
- Não – os olhos verde-sinceridade me olharam.
- To com medo de ficar presa – confessei.
- Você tem que pensar que vai conseguir descer!
E logo me encorajou a perguntar a outras pessoas que imediatamente me indicaram que estava na porta correta. Respirei aliviada. Ele esboçou um sorriso de contentamento. Desceu na estação seguinte e se perdeu, anônimo, na multidão.
Memorias de mis putas tristes - G.G.Marquez
domingo, 15 de março de 2009
ComPaixão
Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio, em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo significado: piedade (em ingles pity, em italiano peitá, etc.), sugere mesmo uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre.
É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem, que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.
Nas línguas que formam a palavra compaixão não com a raiz " passio: sofrimento", mas com o substantivo "sentimento", a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente pode-se dizer que ela designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta da sua etiologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspol-czucie, Mitgefuhl, med-kansla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva - a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.
A insustentável leveza do ser - Milan Kundera
sexta-feira, 13 de março de 2009
Manhã de quinta
- Não quer levar? – pergunta ela, oferecendo um saco plástico com uma garrafa de água e um copo.
- Não, - ele diz - não precisa.
- Leva - ela insiste.
O senhor então pega o saco sem pronunciar uma palavra. E então diz:
- Vai, pode ir.
- Por que está me mandando embora?
- Você tem que ir trabalhar.
- Mas não há necessidade, só começo às nove. E biscoito, você quer levar?
- Não, não precisa, você vai querer comer mais tarde.
- Não, não, eu não como biscoito. – já colocando o pacote dentro da pasta dele – Quer que eu te acompanhe até o terminal?
- Não precisa. Tá torto.
- O que tá torto?
- Essa coisa no seu cabelo.
- Tá torto nada. Tomou o remédio para pressão?
- Ainda não.
- Isso é o que eu chamo de desobediência.
O ônibus chega. Eles se despedem. O senhorzinho sobe. A senhorinha caminha e pára. Olha para dentro do ônibus. Certifica-se de que ele está sentado. E segue.
Natureza Humana
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza
Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa
Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar
Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar
(Vinícius de Moraes)