quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Conversa de salão

Entre o trabalho e mais uma das comemorações de fim de ano, fui ao salão fazer as unhas que já gritavam por socorro. Uma mocinha simpática me atendeu. Branquinha e de olhos azuis e jeito de “quem não é daqui”. Nas primeiras palavras, o sotaque do sul se fez evidente.

É difícil ter assunto com manicures, porque ultimamente estou por fora das novelas, fofocas de artistas e últimas tendências da moda do cabelo. Com algumas, vez ou outra, rolam assuntos interessantes fora desse círculo.

Ontem foi um desses casos. A história era de amor. E eu adoro ouvir histórias de amor.

O sotaque já é uma introdução de quebra-gelo. Veio ao Rio porque namorava um menino do Rio. Casaram-se. Mas como se conheceram? Num site de internet “bagaceiro”, segundo sua própria definição.

Na cidade de onde veio, também trabalhava com beleza, mas em uma clínica de estética que era sua e de sua irmã. Ia andando para o trabalho... Levava dez minutos em uma calçada que era só dela.

Num dia de chuva, as clientes desmarcaram e ela decidiu se aventurar em um site. Naquele momento, ela ainda era Betânia e ele, Daniel. Conversaram, trocaram fotos e começou um contato intenso. Ele iria ao sul conhecê-la, mas, no fim das contas, se enrolou e acabou enviando a passagem para que ela fosse ao seu encontro.

Precavida, pediu todos os documentos do moço e um amigo delegado verificou que era uma pessoa sem passagens policiais. Depois desse encontro, vieram outros tantos durante dois anos, até que veio a proposta de casamento.

Ela mudou de cidade (estado e região) junto com a filha (não quis entrar em detalhes, mas o cara se da super bem com a filha de seis anos, que o chama de pai), deixou de ser dona para ser funcionária em um salão no centro da cidade, encara duas horas em trânsito para ir ao trabalho e mais duas horas para chegar a casa. Mas diz que ele é um achado. E que a vida é isso, tem que viver. E que se tivesse chance de viver de novo essa época da vida, faria tudo de novo.

Contou-me tudo isso enquanto fazia a minha unha, com o belo sotaque de Porto Alegre e um sorriso leve e inspirador.

Sobre o Japao.... I

Contando para o meu primo em Kyoto, ele que é da noite também, sobre como andava a minha viagem pelo Japão.

- Para aproveitar a diferença do fuso, estamos acordando 6am, tomamos café da manhã...e rua. Passeamos o dia inteiro e chegamos de volta ao hotel, já de noite, mal conseguindo andar de cansados...
- Mas, peraí! Todos os dias vocês acordam cedo assim?
- É.... Minha vida é difícil.
- Gente, isso é pior que trabalhar!

sábado, 17 de outubro de 2009

...

Não entendi a ligação no meio do dia.
Atitude inesperada e sem direto à réplica. Quase um bombardeio.
Sumida - sim, ando sumida.
Viagem se aproximando, trabalho da pós e novidades. Tudo junto.
Alguns amigos para encontrar, dar conselhos, fofocar.
Ela também andou recebendo visitas, tem aula terças e quintas. Terapia às quartas.
Ela não quis ir ao circo, também não quis ir ao show.
Poderia dizer: saudade. quando vamos nos encontrar?
Poderia dizer: tá tudo bem?
Poderia ainda dizer: estou triste, ando precisando de mais atenção.
Mas disse tantas coisas e com tamanha rapidez que mal consigo lembrar as palavras.
Quase indignação por coisas da vida. Quase infantil, eu diria. Bom, eu disse.
Ela que durante meses não teve tempo nem para um café.
Eu que já pensei tudo o que ela disse tantas vezes.
E que nunca disse por entendimento.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Era pra ser.

Acho engraçado como o movimento entre pensamentos e acontecimentos se entrelaçam. Pensamentos e encontros. Encontros e acontecimentos. O filme que se encaixa perfeitamente para a questão do dia. E com o livro em leitura. Ler a mensagem de um amigo escrita há anos e encontrá-lo no mesmo dia na rua, assim de pura casualidade depois de muitos meses sem se ver. As pequenas coincidências que nos faz achar que foi o que era pra ser. O ímã que liga vidas diferentes através de pensamentos e vontades. A sensação que antecipa encontros. Alguns encontros que em momentos específicos constroem idéias quase óbvias da aleatoriedade da vida.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

... um dia em terras pernambucanas.

"com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
entrar no ACASO e amar o PROVISÓRIO"

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sobre não escrever

Coincide a época de falta de palavras e inspiração com um encontro silencioso e súbito. Coincide a época com atribulações, burocracias e expectativas em demasia. Coincide a época, ainda que com tanta agitação, com certa calmaria de fontes novas. Mas questiona-se se há alegria. A alegria também inspira. Mas, sim, a alegria é evidente nos sorrisos e nos planos. O novo recicla. A agitação manifesta-se também por palavras atropeladas e saltitantes. Mas por que não se escreve mais? Sinto falta das palavras dançantes, do contentamento da releitura e da tranqüilidade de transcrever.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

(des) apego

E ela decidiu que seria aquela a semana que mudaria a sua vida. A semana do desapego. A semana de livrar-se da roupa velha, da caneta que não escreve, das palavras que nada dizem. Coisas que remetem a coisas do passado, mas que não encontram – afortunadamente – seu espaço no futuro. Ela que teve sempre o hábito de guardar cartas antigas e sentimentos em fase terminal percebe, ao contrário do que sempre pensou, de que, em algum momento, aquilo lhe serviria; decidiu jogar tudo fora, arrumar a casa, deixar as janelas abertas para que o vento levasse para longe qualquer resquício que pudesse sobrar. Na verdade, essas tais coisas, de alguma maneira estiveram sempre presentes e mal não faziam. Talvez não explicitamente. Mas ela decide e continua firme. Bate o pé. E agora o que entra em provação não é o domínio sobre a sua vontade, mas sobre a sua escolha. Levar até o fim algo repentinamente decidido. Ela diz a si mesma o quê e por que. E continua firme.

Por hoje, ela conseguiu.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sexta antes de tudo

E ali estava o casal. O Derby Suave sobre a mesa já denunciava que eram do subúrbio, embora as vestimentas e o penteado já fossem indícios suficientes sobre suas origens. Eles discutiam. Parecia importante. Importante àquela hora da madrugada e depois de incontáveis garrafas de cerveja. Não discutam nesse estado de embriaguez –pensei. Ele levanta e ela bate na mesa. Ele pega o copo e ao perceber que está vazio gentilmente o devolve. Troca algumas palavras com o garçom emo que já ia a seu encontro. Para estar condizente com o tempo frio, o homem de meia idade traz posto um caso com ar juvenil, semelhante aos casacos adidas ou puma. No lugar de adidas, o casaco trazia escrito: “Diâmetro”. Acho graça. Ele senta-se, ela sorri e retornam ao anonimato.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gerenciando diferenças culturais no mundo globalizado

Saiu no globo.com hoje: “Suíça islâmica é proibida de usar adereço na cabeça durante jogos de basquete”. Uma jogadora suíça de crença islâmica foi proibida de usar o seu hijab. Ainda não sei se concordo ou não, simplesmente reflito. Um lenço na cabeça, ainda que faça referência a uma religião, faria mesmo tanta diferença? Causaria manifesto, mal-estar, rivalidade, guerra santa?

Como sempre, alguma história vem à mente. Já estava morando na Cidade do México, trabalhando no Departamento de Compras, em que a maioria dos fornecedores era judia. Estávamos recebendo muitas visitas, pois era época de compras para a próxima temporada. O cumprimento usual era o burocrático aperto de mão.

Um dia como qualquer outro, recebendo um fornecedor como qualquer outro – foi o que eu pensei, eis que eu estendo a minha mão para cumprimentá-lo e fico em um vácuo terrível. Tratava-se de um judeu ortodoxo. Mal-estar! Fiquei mal, não há pior sensação do que ser propositalmente ignorado.

Quem está certo, quem está errado? Ninguém está certo e ninguém está errado. Ao mesmo tempo, não existe um modo de “como agir nesses momentos”. Eu era latina, estava no México onde é sinal de educação e respeito cumprimentar o outro com aperto de mão. Ele, judeu, também estava no México e, por uma questão religiosa, não podia encostar em uma mulher fora do seu núcleo familiar em período menstrual. Na dúvida, não podia encostar em nenhuma. A religião de alguma forma acaba sobrepondo o social.

Respeito. Respeito é algo que deve existir entre culturas. Entendimento e compreensão, ainda que não haja concordância. O fato é que no dia-a-dia tudo isso fica complicado, pois ainda não se sabe como gerenciar essas diferenças na vida prática.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Almoço de sábado

Cena:

Mãe e filha cozinham juntas para o almoço de sábado. Steak de frango à parmegiana. A mãe havia começado e era ela quem comandava o desenrolar dos preparativos.

Mãe: Pode colocar o molho de tomate sobre os steaks.

Filha: Com a concha?

(Risos)

Mãe: Você tinha parado.

Filha: Parado de que?

Mãe: De fazer perguntas idiotas.

(Mais risos. Agora das duas)

Sobre sexta...

Ela estava ali, estirada no sofá sem muita intimidade, pensou em desistir de tudo e ficar ali. Pensou que poderia adormecer e aliviar o cansaço e a tensão de uma semana inteira de maratona cotidiana. Pensou que o show talvez não fosse mais tão importante frente à dormência dos pés, mas principalmente dos pensamentos. Mas como? Ela que controla tudo perderia o controle da noite pré-programada e tão bem arquitetada. Salvo alguns pequenos detalhes, tudo estava sob controle. Ao menos, foi o que ela pensou. Em um salto de atitude, resolveu comprar as tais cervejas. A amiga, ainda mais estirada que ela e sem a menor perspectiva de recuperação diz:

- Pergunta se eles entregam em casa.

Chegando ao bar, ela pediu as cervejas e focou no moço logo ali ao lado que virou um copo inteiro de cerveja cheio de cachaça. Ficou observando aquela cena e esqueceu-se de perguntar. O que era mesmo?

As cervejas se abriram, a música ficou mais alta e, de repente, mais dançante. Os ânimos melhoraram quase que por um milagre. Toma banho, escolhe roupa. Pode? Pode. Pode tudo. Mais cerveja. A noite sorri.

E foi. Dali para o bar. Do bar para o show. Do show para a festa. E da festa pra onde mesmo?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eu sofro de mimfobia.
Tenho medo de mim mesma.
Mas me enfrento todo dia.

(Millor Fernandes)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

So, so...

Hoje bateu síndrome de solidão. E essa música que não sai da minha cabeça. Solidão leve. Não sofro. Não choro. Mas o vazio que me consome. Quero me apaixonar por qualquer coisa. Por alguém. Uma música, um sonho. Um plano que plana. O dia.

É como se a gente
Não soubesse
Prá que lado foi a vida
Por que tanta solidão?
E não é a dor
Que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão...

Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou...

É como se a gente
Pressentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou o medo de ficar
Vazio demais meu coração...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Coisas de mummy...

Eu: Não aguento mais essa vida de trabalhar em escritório, queria trabalhar ao ar livre...
Ela: Por que não vende cachorro-quente na praça?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Grata.

Grata pela vida, pelos encontros e pela confirmação de sentimentos. Amigos: pérolas que o destino colocou em meu caminho. Amigos: irmãos que eu escolhi. Fui premiada muitas vezes, penso em cada um deles e sinto uma enorme gratidão. Agradeço por tê-los em meu caminho. Meus amigos que moram longe. Não nos falamos quanto gostaria, mas o sentimento convicto da amizade não se dissolve no tempo. É sempre tão bom vê-los de novo. Sempre tão bom saber que tudo continua exatamente onde deixei na última vez que os vi. Algumas relações não funcionam à distância: é o trabalho que consome, a vida social intensa, tantos livros para ler e tantas coisas a fazer. Mas o sentimento permanece intacto e forte. Inabalável. É a companhia boa, o silêncio agradável, as confidências, histórias de últimos acontecimentos e lembranças de uma época única em nossas vidas. Conhecemos tanto uns aos outros e resta sempre a certeza de que a escolha da amizade é irreversível. Os últimos minutos de truco pela alegria de estar juntos pagam a correria para não perder o vôo de domingo à noite.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Festa dançante

- Queria poder expressar tudo o que sinto em palavras. - (Suspiro) - Ah, você entende?
- Sim, sim, eu entendo.

*********************************************************

- Eu nunca te vi tão feliz.
- É eu estou feliz. – (Pausa) – Hoje estou enterrando um amor.
(Abraço)
(Dança)
- Vou pegar mais uma cerveja.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Hide and Seek

De repente, você se vê envolta de sentimentos que já nem sabia que existiam. Mexe-se em um passado distante e quase esquecido e eis que ele ressurge forte e avassalador. Sente-se pelas lágrimas que lhe querem saltar dos olhos, do aperto no coração, das lembranças de tempos felizes. Tempos atrás.

Decepção. Sim, foi decepção, mas não foi morte. Não foi fim. Sente-se como se o sentimento em coma ensaiasse um arrastar pelo chão; distraído, como quem aprende a caminhar.

Como podemos esconder tão bem os sentimentos? Escondemo-los até de nós mesmos a ponto de acreditar com veemência que não existem mais. Será possível escondê-los por toda a vida ou será que sempre será chegado o momento em que eles lhe surpreendem, vivos e sóbrios? Por quanto tempo conseguimos ocultá-los a fim de nem percebê-los?

Mentimos tanto para nós que chegamos a crer que se extinguiram por completo, com tanta competência a ponto de nem mais senti-los. E, de repente, ele se revela.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Quereres - Caetano Veloso

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim

quarta-feira, 8 de julho de 2009

TANABATA: o encontro das estrelas

Diz a lenda japonesa, inspirada nas estrelas Vega e Altair, que no dia 07 de julho, a princesa tecelã Orihime e o pastor do gado Kengyu se encontram. A princesa e o pastor, que se encontrava do outro lado da Via Láctea, foram unidos pelo pai de Orihime, o Senhor Celestial. Após a união, os jovens se apaixonaram loucamente e não faziam nada além de estarem juntos. Como punição pela imprudência, o casal foi transformado em estrelas e separados pela Via Láctea: Vega e Altair. Ambos ficaram mergulhados em tristeza profunda e o pai, comovido, decidiu permitir um encontro anual no dia 07 de julho.

No dia do Tanabata, costuma-se escrever os pedidos e desejos em papéis coloridos (tanzaku) e amarrá-los nos bambus. Cada cor representa um tipo de pedido:

Amarelo: dinheiro
Azul: Proteção dos Céus
Branco: Paz
Rosa: Amor
Verde: Esperança
Vermelho: Paixão

A lenda diz que todos os desejos são atendidos no momento mágico do encontro entre Orihime e Kengyu.

É ou não é fofo?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Viva (,) a vida (!) (.) (...)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

( )

Prefiro estar em uma montanha russa que em terra firme, embora precise da terra firme para me dar segurança e estabilidade – e então, estar em uma montanha russa. Preciso de terra firme para voar sem limites, imaginar sem escrúpulos, sem culpa nem dó. Não é o sofrimento que me incomoda mais. O vazio é o que me incomoda, sem brilho e sem cor. O vazio é nada. Nada não fervilha, nada não inquieta, nada não ilumina. Nada não desencadeia sonhos nem simulações mirabolantes. Nada não traz fantasia, nem risos insanos, nem a alegria de poder voar. Nada é o vazio, é a ausência de todo e qualquer sentimento. Nada é desespero calmo, poço com fundo, sorvete sem calda. Nada é a normalidade em sua pior forma, não reluz, não dança nem faz careta. Estático, aguarda a chegada de uma enchente que lhe complete o que ficou vazio. O vácuo de sua infinita e lenta ignorância.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Tarde de domingo...

A surpresa não foi o esquecimento do meu aniversário, mas a lembrança tardia no dia seguinte. Fazia tempo que não nos falávamos, embora nos lêssemos com certa freqüência. Uma surpresa feliz. Ela estava animada, assim como eu bem lembrava. Marcamos o cinema para a tarde de domingo. Tinha como certa uma desculpa qualquer seguida da famosa frase: - Mas vamos marcar alguma coisa logo! Para minha segunda surpresa, o cinema ainda estava de pé.

O encontro foi alegre, de duas pessoas que muito se conhecem, mas que estavam de férias de si mesmas. As conversas fluíram como manchetes de jornal. O Mac book recém comprado. Ou book Mac. Na verdade, pouco importa a ordem. Existem coisas que são fodas por si sós. Independentemente do conhecimento de quem relata ou do entendimento de quem ouve. Mac é Mac. E Mac é foda.

O reencontro teve um desenrolar leve, com luzes de uma tarde de domingo feliz. Daqueles em que se iniciam muitos assuntos e terminam-se poucos - eufóricos, eles se atropelam saltitantes. O café, a pipoca, o filme. O filme foi bom. Mas não falamos do filme quase nada. Antes que ainda pudéssemos digeri-lo, estávamos as duas enlouquecidas pelas etiquetas vermelhas das lojas em rebaja.

-Eu não conhecia esse seu lado consumista, disse. O fato é que a euforia se prolongou por mais algum tempo, quando consentimos que era hora de ir embora. A despedida foi súbita e ainda eufórica.

Querida, o (re)encontro foi foda.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Heal the world

Morre o rei da música pop. Michael Jackson, marcado por suas polêmicas e bizarrices, hoje é lembrado pelas alegrias deixadas, pelas músicas que marcaram épocas e momentos. É lembrado pela energia do palco, pelo moonwalk, pelos Jackson 5. Sim, é verdade, muitas pedras no caminho. Acusações das quais foi absolvido, exibições de seus filhos assustadoras, tabus em torno da Terra do Nunca, transformações constantes em sua aparência. Mas, quem foi rei nunca perde a majestade. Prova disso foram os ingressos que se esgotaram algumas horas após o início das vendas dos shows que faria em julho. Hoje, no entanto, sua vida, perante a sua morte, é lembrada essencialmente pelo bom legado que deixou.

Isso me remeteu a uma história dos Mamonas Assassinas. Na época, lembro-me bem da professora de português fazendo duras críticas ao grupo. O português incorreto poderia influenciar crianças e adolescentes a falar errado. Um absurdo, dizia. O acidente fatal chocou todo o país. O choque da impermanência no auge de sua carreira entristeceu principalmente crianças e jovens. A mesma professora lamentou na aula seguinte a tragédia que silenciou o país. Então, a aula foi inteira dedicada à alegria, irreverência, descontração e energia que as músicas em português assassino traziam para o dia-a-dia do povo (tão sofrido) brasileiro.

É curiosa essa mudança de visão repentina após a morte. Depois que a pessoa já não pode mais absorver as críticas, elas subitamente se extinguem. As pessoas, a mídia e a opinião pública pegam pesado no pré-julgamento e no julgamento em si. E, frente à morte, esse julgamento vai por água abaixo. Não que todos fiquem bons depois de mortos, mas é como se, depois de mortos, já não faça tanto sentido criticar. Por que não olhar diferente, por que esperar a morte chegar, por quê?

Não supervalorizemos os fatos nem depreciemos tanto as pessoas.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Eu tentei. Repito que tentei. Ah, como eu tentei! A vontade, no entanto, depende também do outro. Da resposta do outro, da vontade do outro, do silêncio do outro. Mas eu tentei, eu juro que tentei. O muito que excede o nosso limite talvez seja pouco. Mas a tentativa frustrada conforta quando não há mais nada o que fazer. Pode ser que tudo tenha mesmo o seu tempo. Tempo de nascer, existir e morrer. Ciclo que se encerra. Será? Não sei, sei apenas que tentei. Eu liguei, eu escrevi, eu mandei. Li essa semana que julgamos os outros pelos resultados e a nós mesmos pelos projetos. Será que ando querendo justificar a minha inércia frente às tentativas vãs? Mas nem tudo é projeto, apenas um querer. E o querer envolve o querer de outrem. E a vontade se esvai quando as tentativas se cansam e decidem que é hora de parar.

Se...

Não.

Mas,

Talvez.

Antes?

Nunca.

Depois,

Quem sabe?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Pretensão

Quem é você?
Um grande espetáculo!
Quando interpretado por mim...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Menino Travesso

Pára-quedas, queda livre. Livre
Pássaro voa, voa, voa...
Mente fértil, corpo leve
Só riso. Sorriso.

Que vida ocultas nas lacunas de SILÊNCIO que alternam os nossos encontros?

domingo, 7 de junho de 2009

Sem rodeios

Quem sou eu?
Uma grande atriz.
Me interpreto muito bem...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Esse ou aquele?

O sumiço do avião da AirFrance foi o comentário do dia. O impacto que a notícia do avião que evaporou com a água do oceano causou. Bate aquela tristeza. Imagina você, aguardando a ligação do familiar, amigo ou amante tida como certa e, em troca, recebe a notícia de que o avião que o levava a um sonho, a casa ou a uma reunião de negócios simplesmente... pluft. Não se sabe o que aconteceu com ele. Angústia e sofrimento de repente invadem corações mundo afora. Pesadelo, desespero, a ficha que não cai. Silêncio. Vazio.

Passado o baque, penso como a vida é breve. Não há planejamento que resista ao acaso ou ao destino, seja lá como se chame. Vida interrompida em poucas horas. Não somente em desastre aéreo, muitas pessoas morrem todos os dias no mundo por razões de toda sorte. Mas o desastre aéreo, assim como outras grandes catástrofes, acaba roubando a cena pela grandiosidade e pelo sofrimento coletivo. Chora-se por eles, chora-se por si.

Estarei vivendo como quero? Estarei cuidando das pessoas que eu amo com a dedicação que deveria? Poderia ir conhecer aquele país, mudar de profissão, correr atrás do amor perdido... É clichê, assunto batido, mais do mesmo. Mas é inevitável levantar questões que deixamos para pensar depois, fazer depois, ligar depois, amar depois. A falta de entrega, de dedicação, de humor, de bom senso. A falta de cuidado com os outros e consigo, de carinho, de atenção.

Irrita-se por pouco, reclama-se por nada e a vida vai passando.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Para Vanessa Pessoa

Querida,

Enfim recebo alguma notícia sua. Ainda que seja um pequeno manifesto em tom de brincadeira. Foi uma bela surpresa. Ando com saudades suas, com homenagem em site de relacionamento, tentativas de breves papos em chats, comentários em blog... Enfim, meios da modernidade.

Sei que a vida é complexa – além de curta - e temos os nossos momentos, planos e, principalmente, transformações. Saudade dos cafés, de compartilhar planos futuros e presentes, saudade da sua poesia e da luz vibrante das suas palavras ditas com entusiasmo.

Mas sempre resta a certeza do vivido. Nesses casos, o passado é um excelente analgésico para a dor da saudade. Da crise de riso, das cartas além mar, dos cartões-poesia, do cotidiano distante e sempre tão presente. Saudade do seu riso, da sua força, do seu apoio e da sua leveza. Sim, leveza. Quando não está leve, eu sei que você nem sai de casa.

Lágrimas rolando...é hora de encerrar. Ando sensível. Deixo aqui o meu ‘Para Vanessa’, sem muita inspiração, porém com o saudosismo que há tempos anda me perseguindo.

No aguardo do próximo café.

Um beijo,
Celinha_s

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Menina chorando e menina sorrindo...

Para Isabella:
http://longitudequarentaetres.blogspot.com/2009/05/perdidos-na-selva-de-pedra_27.html

A menina chora e ri.
Chora quando a realidade lhe dá um tapa na cara.
Daqueles bem estalados.
E chora também quando o tapa é no outro
E ela, frágil e impotente, nada pode fazer
Contra a mão pesada que lhe rouba a respiração
A menina sorri quando vê passarinho cantando,
Quando a rosa desabrocha
E quando toma sorvete de chocolate.
A menina sorri quando vê outra menina.
A menina sorri quando vê um cachorrinho serelepe.
A menina sorri. E chora.
E aprende um dia
Que o riso e o choro não apenas coexistem
Mas que a existência de um só é possível
Com o silêncio do outro

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mais de uma verdade que não pode ser banalizada

Há uns dois dias ouvi alguns tiros da minha casa. Hoje, indo ao trabalho, o ônibus em que eu estava bateu com um carro, já bem pertinho. Felizmente, a motorista reconheceu o erro e restou apenas resolver probleminhas burocráticos. Ninguém se feriu ou foi hostilizado. Que sorte! A batida aconteceu em frente a um carro de polícia que prontamente veio checar o incidente. Chegam os três policiais, com armas enormes nas mãos. Mas aquilo um mero detalhe, pois em nada influenciou o trabalho. As armas faziam parte do vestuário, como se fossem meros complementos do uniforme. Armas. Não sei dizer de que tipo, pois não tenho o menor conhecimento. Só sei que eram grandes, pretas e de fogo. Conversaram e se entenderam, e aquelas armas ali, penduradas. Chegando ao trabalho, mais carros de polícia. E mais policiais com aquelas coisas expostas apontadas para quem passasse.

Lembro-me da primeira vez que eu vi algo parecido com isso. Faz muitos anos. Um carro de polícia fazia uma ronda de madrugada pela cidade. Os policiais, com as armas para fora do carro, sem nenhuma razão aparente. Aquilo me chocou, perguntei-me a necessidade daquele show ao vivo e gratuito. E continuo buscando a resposta.

Pergunto-me ainda quantas pessoas ainda morrerão de bala perdida. Quantas terão as suas vidas marcadas por um segundo de horror. Quantas mães, pais, irmãos e amigos enterrarão pessoas queridas sem motivo. Quantos policiais inocentes ainda morrerão pelo simples fato de serem policiais. E quantos policiais mais se deixarão corromper. Pergunto-me quanto vale a vida, se morrer é de graça.

Penso em ir embora. Seria uma fuga talvez, pela própria segurança e bem estar. Mas contesto uma vez mais porque eu tenho que sair viver longe de onde eu gosto e das pessoas que eu amo. Por quê? O que foi que eu fiz para que a situação chegasse a esse ponto? Agora me pergunto o que foi que eu não fiz.

Pergunto-me até quando as pessoas chorarão em silêncio. Pergunto-me como querer ter filhos, se não podemos proteger nem a nós mesmos. Até quando esperaremos que a violência bata à nossa porta para que tomemos alguma atitude. Não encontro respostas, nem explicações.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

(...)

Se doce ou salgado
Se azedo ou amargo
Se frio ou se quente
Se chuva ou se sol
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora

A cada viagem, uma despedida
Encontro e desencontro
Chegada e partida
Uma noite perdida
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora

Se mudo ou se sigo
Se dentro ou se fora
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Por um fio

Há alguns anos, eu li um livro do Dráuzio Varella chamado "Por um fio". Nele, o autor relata histórias de seus pacientes com câncer em estado terminal ou com o tempo de vida contado, quando a medicina já não pode fazer muito mais para prolongar a caminhada pela vida.

Uma das histórias que mais me marcou foi a de um homem que descobriu uma traição de sua esposa e decidiu continuar casado. A vida então passou, o casamento nunca foi o mesmo, baseado em comodidade, aparências e sem entrega. Uma ferida que nunca fechou. Depois de receber a notícia de que a sua vida estava chegando ao fim, decidiu se separar, conheceu uma mulher na sala de espera do consultório e padeciam do mesmo tipo de câncer. Que coincidência é o amor! Apaixonaram-se loucamente e estavam vivendo os melhores momentos de suas vidas.

Dentre muitas questões que o livro levanta, com sensibilidade e sabedoria, existe uma que me marcou mais. Será que somente com a chegada da morte é possível viver de verdade? Será que é necessário que o fim seja anunciado para ter coragem e arriscar (-se)?

O medo chega em momentos desconhecidos, onde há fascínio e mistério, mas traz consigo uma pitada de insegurança. Muitas vezes, essa insegurança nos faz retroceder, reprimir sentimentos, desistir de tentar, voltar à nossa vida calma e segura.

A vida então mostra-se contraditória. Enquanto a temos com a sensação de eternidade, tudo é vivido com calma, com um certo comodismo e na busca constante de estabilidade emocional. Quando ganhamos um prazo, as perspectivas mudam e fica a sensação de jogar tudo para o alto e viver como sempre se quis.

O que você faria se o sol não nascesse amanhã?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sobre o turismo da pobreza e o embelezamento da miséria

Não sei bem o que desencadeou o pensamento, se é que pensamentos têm que ser desencadeados. Mas o caso foi que comecei a pensar sobre tipos alternativos de turismo que se fazem mundo afora, inclusive na Rocinha. Achei em uma pesquisa na internet um passeio que custa setenta e cinco reais por três horas de voltinhas dentro de uma das maiores favelas do Brasil. Passeio de jipe para aprender sobre a maneira de viver dos miseráveis retirantes nordestinos, sobre a vida governada pelo tráfico, sobre como viver sem a infra-estrutura nem higiene necessárias para uma vida digna.

Turistas não são antropólogos. São apenas turistas, querendo aprender a cultura, a história ou simplesmente descansar. Antropólogos podem ser turistas, mas turistas não são antropólogos. Enfim, fico confusa com essa história toda. Porque além dos que querem de fato entender alguma coisa nessas três horas sobre a sociedade brasileira, a desigualdade e o tráfico - o que eu duvido que seja possível-, fico imaginando que tipo de fascínio existe em ver de perto o quão triste é a realidade do nosso povo.

Lembrei-me de duas situações ligadas a esse tipo de turismo. A primeira foi quando fui a Amsterdã. Da famosa Red Light zone eu não cheguei nem perto. Por quê? Simplesmente porque não estava a fim de ver meninas e mulheres sendo ofertadas em vitrines como carnes de açougue. Há quem diga que existem putas felizes e que realmente gostam do que fazem. Mas a maioria... A maioria, eu duvido. As pessoas são sentimentos no fim das contas. Existem coisas com as quais nunca nos acostumamos.

A segunda situação foi no México. Em Creel, uma cidadezinha no estado de Chihuahaua. Fizemos o passeio de trem de Los Mochis à cidade de Chihuahua, passando pelos cânions de cobre. Desembarcamos na cidade de Creel, em que aproveitamos para fazer alguns passeios nos dias seguintes. Em um dia visitamos os Tarahumaras, uma aldeia indígena bem pobre como a maioria das aldeias remanescentes. O turismo na aldeia dos Tarahumaras é incentivado pelo comércio de seus artesanatos para ajudar com que tenham uma vida mais digna. É incentivado pela divulgação de suas culturas e seus valores. Há um museu na cidade com a história e costumes. A pobreza foi conseqüência da colonização espanhola. A aldeia não nasceu da pobreza, surgiu de mistérios de muitas teorias, porém nunca desvendados. Não explora a miséria, nem cultua a pobreza.

No dia seguinte, fizemos um passeio que incluía vários pontos turísticos da região. Depois de ver lagos, cachoeiras e muito verde, enfim paramos na última atração do dia. Passamos por uma grade e chegamos a grandes pedras com uma pequena entrada. Quando entramos, eis a surpresa. Uma família vivia ali. No exato momento em que me dei conta, saí daquele lar com náuseas. Quando o guia disse que iríamos visitar uma casa construída sob pedras, pensei que se tratasse de uma forma de construção própria da região. Jamais havia passado pela minha cabeça que uma família miserável, sem ter o que comer ou onde morar, alojou-se entre duas pedras enormes, sem a menor condição de vida. Mãe e filha sorriam para nós e pediam esmolas.

Mas, sem muitos argumentos, não sei exatamente o que me incomoda nessa história toda. Sei que não concordo. Sei que me faz mal pensar em participar e contribuir para esse tipo de turismo. Sei que me dá vontade de correr quando vejo algo parecido na minha frente. Talvez seja apenas questão de valores que eu ainda não tenha conseguido desvendar em argumentos.

domingo, 10 de maio de 2009

(...)º

No julgamento precoce, perde-se a oportunidade de aprofundar-se no novo. Conhecê-lo de perto, devorar as suas veias, desvendar o mistério de seus traços e curvas. Por limitar os conceitos e pela necessidade de classificar, os momentos se vão e se esvaem. A água suja escorre pelo ralo, levando tudo o que poderia, seria, diria. No silêncio da última gota, o 'pode ser' transforma-se em negação e - lentamente - consome toda a energia economizada e tida em vão. Se pudesse, transformaria tudo (tudo) a que eu disse NÃO em ninho.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Quero Encontrar Um Amor

quero encontrar um amor daqueles que não batem
na porta pra entrar
aquele que não exita em espantar a visita que me visitar
que seja um cordeiro e que seja um leão
um bicho do mato e de estimação
e pode ser que me queira
ou me faça dormir na esteira estinda no chão
quero encontrar um amor misto de samba leve com heavy metal
que ponha as unhas de fora
mas no "H" da hora me venha total
que tenha um ar diferente do meu
que seja um canal aberto pro céu
e sempre na geladeira um vinho de primeira roubado da adega de Deus
Roubado. . . ououou
quero encontrar um amor que só tenha motivos para me evitar
algo de fundod e breque um jeitão de moleque, trajes de escolar
Um CDF e um fora da lei
aonde encontro este amor eu não sei
é num barzinho lá em cima ou na próxima esquina
eu só sei que eu encontro o meu bem

(Sérgio Sampaio)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A que vim

Viajar é conhecer mundos, cheiros e temperos. Ver a história acontecer ao vivo, quebrar mitos e ampliar visões. Conhecer, respeitar e amar o diferente. Tirar a armadura e tomar banho de chuva sem preocupações. Desligar da rotina, quebrar paradigmas e refazer conceitos. Ou desfazê-los. Viajar é conhecer mais do outro para conhecer mais de si. É ir até o outro lado do muro e respeitá-lo, ainda que os valores sejam opostos aos seus. Compreender. Viajar é enriquecer a alma e alimentar o espírito de fartas lembranças e experiências. É o investimento que não se esvai, apenas engrandece.

O que mais me encanta em viajar?

*crianças falando outros idiomas ou outros sotaques.
*conversas casuais.
*descobrir o gosto do prato somente quando ele chega à mesa.
*ver a cidade estranha transformando-se em familiar.
*encontrar o cantinho preferido em cada lugar.
*a preparação da viagem, expectativas e sonhos.
*testar novos meios de transporte.
*observar.
*o inesperado e o improviso.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A ti

Te conoci
Como el aire conoce al viento
En un instante se enamora
En el otro se evapora
Por el sencillo lenguaje del alma
Que entre dos miradas se reconoce
El sentido de la ola que se espalma
Y en el mar, el silencio
Solo y sin prisa
Camina por la arena
Breve y grave
El corazón se lo llena
Del pulsar ofegante
De la cumplicidad del amante
De la lagrima de la gran tristeza
Que se diluye jadeante

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Me da um doce?

Chegando ao terminal, na volta da pós, depois de reclamar um pouquinho – por que não? Reclamar, aliás, é um vício que venho tentando largar. Como todo vício, reclamar é bom, mas faz mal. Muito mal. Mas não ia falar disso.

Eis a cena que me chamou atenção: um menino aparentando no máximo seis anos, maltrapilho, olhar baixo e triste, pedindo ao ambulante um doce. O senhor de mais idade tentou resistir, resmungou que seria o último e entregou o doce ao menino.

Uma cena me veio à cabeça de imediato. Há nove anos, chegando ao hospital em que nasceria a minha irmã temporã, meu pai começou a contar que estava conversando com outro futuro-recém-pai preocupado com a chegada do novo filho. Era o segundo e sustentar um só já estava difícil.

Eu, que apenas começava a trabalhar, tinha um entendimento um tanto limitado em relação a dinheiro e custos de verdade. Ele me disse: Imagina como deve ser difícil para um pai ver um filho pedir um sorvete e não poder comprar?

Criança gosta de sorvete e de doces. Criança gosta de brincar, de pular, de rir e ver televisão. Às dez da noite, deve estar recolhida na segurança do lar e sob a proteção dos pais. No entanto, ali estava ele, descalço e sozinho, no terminal de ônibus suplicando ao ambulante o último doce do dia.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O que você faria se o sol não nascesse amanhã?

O que você faria se o sol não nascesse amanhã?
Talvez olhasse mais para o lado
Talvez a despedida não fosse tão repentina
Pela certeza do próximo encontro
Um tchau meio de lado
Beijos soltos ao vento
- Até amanhã!

O que você faria se o sol não nascesse amanhã?
O tempo é traiçoeiro
A vida é traiçoeira
Um. Segundo.
E o próximo não mais existe

O que você faria se o sol não nascesse amanhã?
“Cuidar das pessoas enquanto estão vivas"
Frase sábia
De quem já viu muita coisa acontecer nessa vida
Nesse mundo doente
Nesse mundo sem rotação
Nesse mundo concreto
Que se desfaz de repente

Vida. Tempo. Vida.
A vida é curta.
Curta é a vida
Para ser pequena.
(pequeno plágio por uma boa causa)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

(...)

Cheia de nada, na expectativa de tudo
Na inércia da palavra não dita
Em cada sonho tido em vão
No olhar perdido no infinito de si mesmo
No sono profundo das madrugadas insones
No tido por não tido
No dito desdito sem ordem ou avesso
Há algo que brilha, vibra, transpõe, contradiz
Impõe.
Há algo adormecido que abre os olhos assustado no meio de um pesadelo necessário
No limite que em si transcede
Há um sentido que transborda o silêncio do sonho e da luz

terça-feira, 7 de abril de 2009

Como se os pés não tocassem o chão...

Havia uma leveza atípica para uma manhã de segunda-feira. Depois da tarde do dia anterior de ressaca, banhada em pesadelos delirantes e pesados, ela quase se viu afundada em uma crise das piores. Daquelas que não se sabe o que ou por que, quando ou onde. Daquelas em que os referenciais se diluem em idéias perigosas. Quase suicidas. Daquelas em que se conhece somente o alívio de seu fim, sem perguntas ou respostas, isso ou aquilo. Que passe. Levantou-se e saiu. Depois de algumas cocas, sambas, risos e mágica, eis que ela volta leve. E essa mesma estranha leveza a acompanhou por toda a segunda-feira.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Entre umas e outras II

“Achar tudo profundo; eis um traço inconveniente. Faz com que forcemos a vista o tempo todo e, no final, encontra-se mais do que se poderia desejar.”

“Torna-te quem tu és.”

“Tudo que não me mata, me fortalece.”

“Achará que jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as ações são autodirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo amor é amor próprio.”

“...concentrar-se demais no ataque, forçando-o para além de suas próprias linhas de suprimento, e ignorar sua defesa, até, como um raio, a rainha do pai atacar por detrás das linhas e ameaçar o xeque-mate.”

“O desespero é o preço pago pela autoconsciência.”

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Entre umas e outras

“O desespero é o preço pago pela autoconsciência.”

“os medos não brotam das trevas; pelo contrário, eles são como estrelas: estão sempre ali, mas obscurecidos pela luz do dia.”

“É preciso ter o caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante.”

“Não tomar posse de seu plano de vida é deixar sua existência ser um acidente.”

“...o crescimento é mais importante que o conforto.”

segunda-feira, 30 de março de 2009

Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.
Martha Medeiros

domingo, 29 de março de 2009

O show tem que continuar...

O teu choro já não toca
Meu bandolim
Diz que minha voz sufoca
Teu violão
Afrouxaram-se as cordas
E assim desafina
E pobre das rimas
Da nossa canção
Hoje somos folha morta
Metais em surdina
Fechada a cortina
Vazio o salão
Se os duetos não se encontram mais
E os solos perderam emoção
Se acabou o gás
Pra cantar o mais simples refrão
Se a gente nota,
Que uma só nota
Já nos esgota
O show perde a razão
Mas iremos achar o tom
Um acorde com um lindo som
E fazer com que fique bom
Outra vez, o nosso cantar
E a gente vai ser feliz
Olha nós outra vez no ar
O show tem que continuar
(Arlindo Cruz / Sombrinha / Luiz Carlos da Vila)

quarta-feira, 25 de março de 2009

É na Dança que a verdadeira democracia se manifesta (com D maiúsculo também)

Depois de meses freqüentando os bailes de sexta e encontrando as mesmas pessoas, dei-me conta que pouco sabia sobre suas vidas, além do óbvio que nos reunia no mesmo lugar: a dança. Observei-as pela primeira vez. Jovens sonhadores, senhores e senhoras experientes, baixos e altos, gordos e magros, morenos, ruivos e afins. Pessoas de toda sorte e dos mais variados ramos de atividades. Gostos distintos, opiniões divergentes. Mas Ela estava ali. E Ela sozinha bastava para que não houvesse espaço para quem, o que ou por que.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Nós estamos acostumados a ligar a palavra morte apenas à ausência de vida e isso é um erro. Existem outros tipos de morte e precisamos morrer todo dia.
A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação.
Não existe planta sem a morte da semente, não existe embrião sem a morte do óvulo e do esperma, não existe borboleta sem a morte da lagarta, isso é óbvio!
A morte nada mais é do que o ponto de partida para o início de algo novo.
É a fronteira entre o passado e o futuro.
Se você quer ser um bom universitário, mate dentro de você o secundarista aéreo que acha que ainda tem muito tempo pela frente.
Quer ser um bom profissional?
Então mate dentro de você o universitário descomprometido que acha que a vida se resume a estudar só o suficiente para fazer as provas.
Quer ter um bom relacionamento, então mate dentro de você o jovem inseguro ou ciumento ou o solteiro solto que pensa poder fazer planos sozinho, sem ter que dividir espaços, projetos e tempo com mais ninguém.
Enfim, todo processo de evolução exige que matemos o nosso "eu" passado, inferior.
E, qual o risco de não agirmos assim?
O risco está em tentarmos ser duas pessoas ao mesmo tempo, perdendo o nosso foco, comprometendo nossa produtividade e, por fim, prejudicando nosso sucesso.
Muitas pessoas não evoluem porque ficam se agarrando ao que eram, não se projetam para o que serão ou desejam ser.
Elas querem a nova etapa, sem abrir mão da forma como pensavam ou como agiam.
Acabam se transformando em projetos inacabados, híbridos, adultos infantilizados".
Podemos até agir, às vezes, como meninos, de tal forma que não matemos virtudes de criança que também são necessárias a nós, adultos, como: brincadeira, sorriso fácil, vitalidade, criatividade etc.
Mas, se quisermos ser adultos, devemos necessariamente matar atitudes infantis, para passarmos a agir como adultos.
Quer ser alguém (líder, profissional, pai ou mãe, cidadão ou cidadã, amigo ou amiga) melhor e mais evoluído?
Então, o que você precisa matar em si ainda hoje para que nasça o ser que você tanto deseja ser?
Pense nisso e morra! Mas, não esqueça de nascer melhor ainda!
Paulo Angelim

sexta-feira, 20 de março de 2009

Conjuntivite antecipada - Para Renata e Sara (em ordem alfabética)

Não era Natal, nem Ano Novo, nem meu aniversário. Motivo aparente: saudade. Motivo real: amizade.

Estava arrumando as gavetas e me deparei com o presente pós-pré-viagem que vocês me deram. O mais criativo e emocionante que já recebi. Explico: ganhei de duas amigas muito especiais um pequeno livro com fotos e textos delirantes. A história era a minha fuga do México para passar o Ano Novo no Brasil com elas. Segundo a história, eu forjei uma conjuntivite para conseguir uma dispensa de cinco dias no trabalho. Elas fizeram uma máscara minha e tiraram fotos em diversos lugares, inclusive na festa de Reveillon. Foi emocionante e hilário. Obrigada! Vou agradecer cada vez que eu ler a história e ver as fotos, rir bastante de cada insanidade descrita e pensar como a amizade de vocês é fundamental para a minha existência. Talvez o momento em que recebi o presente não tenha sido o mais adequado, pois não tinha a estabilidade emocional requerida. Penso nas horas, dias e meses que vocês dispensaram escolhendo fotos, escrevendo, imprimindo e encadernando essa história maluca.


E aqui estou em casa, em pleno dia útil, tratando de uma conjuntivite que vocês inventaram que um dia inventei.

Sobre o Deserto (com D maiúsculo)

Depois de uma hora, estávamos no meio do Deserto de Thar, enquanto o sol caía no meio do vazio. Uma amiga me relatara uma vez a primeira experiência em um deserto, o Deserto do Atacama. Dissera que enfim havia descoberto o que era um deserto. E ali estava eu, lembrando de suas palavras e tentando definir o que não se mede. O deserto fala por si só. Ou melhor, o deserto cala. Guarda consigo as manhãs ensolaradas e os mistérios das noites de lua cheia. Guarda em segredo as mágoas de seus visitantes e as esperanças dos viajantes solitários. Sentimentos e sensações são multiplicados pela imensidão do nada, onde o olhar se perde e onde se dilui o limite em areia, vento e céu.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Beatrice e Pablo

Ela entrava majestosa e silenciosa no salão, salvo pelos toc-tocs dos seus altos saltos pretos. O baile já havia começado. Vinha com uma maquiagem discreta e vestido rodado, azul como os seus olhos.

Buscava um canto onde refugiar-se para tomar a primeira cerveja. Ela estava sozinha. Encontrou um lugar que a aguardava tão solitário quanto o seu olhar. O canto é sempre tão mais aconchegante, pensou. Como se as paredes ao seu redor oferecessem os ouvidos para os seus lamentos e as suas costas como apoio.

Buscou uma cadeira com as mãos e delicadamente cruzou as pernas. Pediu uma cerveja preta. A tristeza a consumia por dentro, mas tratava de dissimulá-la em um tímido sorriso. Com o primeiro gole, lhe escorreu pela garganta todo o sangue de ódio pelas palavras recém ouvidas. Os olhos estavam distantes, porém ela estava ali. Imóvel. Uma voz conhecida cortou o silêncio em que se encontrava:

- Vamos dançar, Beatrice?

Era Pablo, um velho conhecido de gafieiras freqüentadas há tantos anos que já havia perdido a conta de quanto tempo fazia.

Respondeu com um olhar de consentimento, colocou delicadamente o copo na mesa mais próxima e levantou-se. Recobria pouco a pouco a audição que lhe fora roubada pela melancolia. As pessoas no salão voltaram a ter formas e cores. Depois de três passos, explodiu em seu rosto um radiante sorriso. O primeiro sorriso sincero nos últimos três anos.

terça-feira, 17 de março de 2009

Adoçante

Nossa...
Hoje descobri que estou um desastre na cozinha.
Fazia tempo que não resolvia aparecer neste cômodo da casa para colocar as mãos na massa, foi hoje!
Cheguei lá, achei comida preparada por minha mãe preta e decidi que não era isso que eu queria. Queria comer alguma coisa que eu considerasse saudável, que fosse fácil de fazer e que me fizesse sentir bem, leve.
Olhei a geladeira...
Olhei a fruteira...
Olhei o armário...
Claro que não ia me atrever a ir ao fogão. Tempos atrás tinha mais intimidade com ele, mas hoje! Desastre!
Então, de acordo com minhas opções, falta de criatividade e disposição para ser mestre-cuca, resolvi por fim que o ideal seria uma vitamina.
Frutas e frutas no liquidificador. ha ha ha
Para qualquer pessoa isso é fácil e eu nunca errei uma vitamina antes...
Estava tão feliz! Tinha laranja, então não precisaria usar leite. Leite não daria a leveza que eu estava procurando.
Peguei duas laranjas, uma banana e meio mamão.
Cortei as laranjas ao meio e espremi com a mão mesmo, não queria ofender demais meu alimento, queria que ele se sentisse desejado por mim. Claro que sobrou muito suco no bagaço.
Nem escolhi a banana porque estavam todas muito parecidas. Cortei com cuidado e coloquei no liquidificador.
Meio mamão.
Bati.
Ficou quase um patê.
Dei uma analisada e constatei que beber minha vitamina de colher não era minha intenção.
Coloquei água...nem pensei q banana e água não combinam, não sei porquê, mas disso eu sempre tive certeza.
Ficou aguado.
Após uma pequena reflexão, não poderia me deixar vencer. Era uma mistura simples.
Peguei mais uma laranja e espremi só a metade ali, sem nenhum amor dessa vez.
Eu não usava aquele liquidificador fazia tempo - isso se um dia usei - e toda vez que precisava provar a vitamina aquele copo não saia da base de jeito nenhum.
Foi após a última metade de laranja que o liquidificador me deu um golpe.
Eu tinha tirado a tampa para ver a consistência da vitamina e tentar me confortar que seria daquele jeito mesmo. Coloquei até adoçante para não dar o braço a torcer. (Tudo que é doce é melhor, mas se estivesse ruim a culpa seria do adoçante que sempre deixa um gosto de remédio)
Na luta com o copo e base, eu estava distraída. Foi quando pelo menos um quarto da mistura, passou voando ao lado do meu rosto (Que sorte, porque tinha acabado de lavar o cabelo) e se espalhou no chão branco da cozinha, que por sinal é toda branca.
Fui correndo limpar. Mesmo não tendo mencionado, estou com um tipo de TOC, lavava a mão entre uma laranja e outra e a cada 3 minutos.
Limpei tudo.
Decidi beber o que sobrou.
E pensei que, com certeza, o gosto era do adoçante.

Epidemia vermelha à vista

O incômodo e a vermelhidão persistiam. No trabalho, houve consenso: conjuntivite. Não havia me ocorrido. Minha primeira conjuntivite em vinte e sete anos de vida.

Fui ao oftalmologista no Largo do Machado. O diagnóstico popular fora certeiro. Saí de lá com quatro dias de afastamento do trabalho e dos estudos.

Peguei o metrô de volta ao Centro. Já eram seis da tarde, hora do caos para quem se aventura ir da Zona Sul à Zona Norte. Quando entrei, o vagão já era uma lata de sardinha quase completa. Desequilibrei-me por alguns instantes enquanto os meus olhos buscavam rapidamente algum apoio. Foi quando veio a voz que dizia:

- Pode segurar no meu braço, não tem problema.

Eu, meio desajeitada e ainda pensando na conjuntivite recém-diagnosticada, consegui me apoiar na barra mais próxima, entre esbarrões acidentais e pedidos de desculpas às pessoas pelo caminho. Imagina segurar o braço de um estranho! Só mesmo em casos emergenciais, pensei.

Observei silenciosamente o guardião daquela voz. Alto, careca, pêlos nos braços, sapatos desbotados, camisa listrada e um perfume de quem acabara de sair do banho. Lia um livro de bolso. Eu, de óculos escuros, me entortei para um lado, me entortei para o outro, mas não consegui ler nem o título do livro nem o autor. Apenas vi que começava com V. Seria Vinícius? Sorri por dentro.


- Que saco! - pensei, sem saber exatamente o motivo.

Sempre invejei os que conseguem ler em pé.

A cada estação entravam mais e mais pessoas. Lembrei-me de uma vez em que quase não consegui descer na estação de destino por estar justamente na porta oposta à da minha descida.


Olhei para o careca e interrompi a sua leitura sem cerimônias.


- Você sabe qual é o lado que se desce na estação Presidente Vargas? – arrisquei.
- Não – os olhos verde-sinceridade me olharam.
- To com medo de ficar presa – confessei.
- Você tem que pensar que vai conseguir descer!

E logo me encorajou a perguntar a outras pessoas que imediatamente me indicaram que estava na porta correta. Respirei aliviada. Ele esboçou um sorriso de contentamento. Desceu na estação seguinte e se perdeu, anônimo, na multidão.

Memorias de mis putas tristes - G.G.Marquez

"Los adolecentes de mi generación avorozados por la vida olvidaron en cuerpo y alma las ilusiones del provenir, hasta que la realidad les enseñó que el futuro no era comno lo soñaban, y descubrieon la nostalgia"

domingo, 15 de março de 2009

ComPaixão

Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra "compaixão" com o prefixo com - e a raiz passion, que origináriamente significa "sofrimento". Em outras línguas, por exemplo em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra se traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra "sentimento" (em tcheco: soucit; em polonês: wspol-czucie; em alemão: Mit-gefuhl; em sueco: med-kansla).

Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio, em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo significado: piedade (em ingles pity, em italiano peitá, etc.), sugere mesmo uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre.

É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem, que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.

Nas línguas que formam a palavra compaixão não com a raiz " passio: sofrimento", mas com o substantivo "sentimento", a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente pode-se dizer que ela designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta da sua etiologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspol-czucie, Mitgefuhl, med-kansla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva - a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.

A insustentável leveza do ser - Milan Kundera

sexta-feira, 13 de março de 2009

Manhã de quinta

No ponto de ônibus, parou um casal já idoso.

- Não quer levar? – pergunta ela, oferecendo um saco plástico com uma garrafa de água e um copo.
- Não, - ele diz - não precisa.
- Leva - ela insiste.

O senhor então pega o saco sem pronunciar uma palavra. E então diz:

- Vai, pode ir.
- Por que está me mandando embora?
- Você tem que ir trabalhar.
- Mas não há necessidade, só começo às nove. E biscoito, você quer levar?
- Não, não precisa, você vai querer comer mais tarde.
- Não, não, eu não como biscoito. – já colocando o pacote dentro da pasta dele – Quer que eu te acompanhe até o terminal?
- Não precisa. Tá torto.
- O que tá torto?
- Essa coisa no seu cabelo.
- Tá torto nada. Tomou o remédio para pressão?
- Ainda não.
- Isso é o que eu chamo de desobediência.

O ônibus chega. Eles se despedem. O senhorzinho sobe. A senhorinha caminha e pára. Olha para dentro do ônibus. Certifica-se de que ele está sentado. E segue.

Natureza Humana

Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza

Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa

Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar

Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar

(Vinícius de Moraes)