quarta-feira, 18 de março de 2009

Beatrice e Pablo

Ela entrava majestosa e silenciosa no salão, salvo pelos toc-tocs dos seus altos saltos pretos. O baile já havia começado. Vinha com uma maquiagem discreta e vestido rodado, azul como os seus olhos.

Buscava um canto onde refugiar-se para tomar a primeira cerveja. Ela estava sozinha. Encontrou um lugar que a aguardava tão solitário quanto o seu olhar. O canto é sempre tão mais aconchegante, pensou. Como se as paredes ao seu redor oferecessem os ouvidos para os seus lamentos e as suas costas como apoio.

Buscou uma cadeira com as mãos e delicadamente cruzou as pernas. Pediu uma cerveja preta. A tristeza a consumia por dentro, mas tratava de dissimulá-la em um tímido sorriso. Com o primeiro gole, lhe escorreu pela garganta todo o sangue de ódio pelas palavras recém ouvidas. Os olhos estavam distantes, porém ela estava ali. Imóvel. Uma voz conhecida cortou o silêncio em que se encontrava:

- Vamos dançar, Beatrice?

Era Pablo, um velho conhecido de gafieiras freqüentadas há tantos anos que já havia perdido a conta de quanto tempo fazia.

Respondeu com um olhar de consentimento, colocou delicadamente o copo na mesa mais próxima e levantou-se. Recobria pouco a pouco a audição que lhe fora roubada pela melancolia. As pessoas no salão voltaram a ter formas e cores. Depois de três passos, explodiu em seu rosto um radiante sorriso. O primeiro sorriso sincero nos últimos três anos.

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