segunda-feira, 18 de maio de 2009

Por um fio

Há alguns anos, eu li um livro do Dráuzio Varella chamado "Por um fio". Nele, o autor relata histórias de seus pacientes com câncer em estado terminal ou com o tempo de vida contado, quando a medicina já não pode fazer muito mais para prolongar a caminhada pela vida.

Uma das histórias que mais me marcou foi a de um homem que descobriu uma traição de sua esposa e decidiu continuar casado. A vida então passou, o casamento nunca foi o mesmo, baseado em comodidade, aparências e sem entrega. Uma ferida que nunca fechou. Depois de receber a notícia de que a sua vida estava chegando ao fim, decidiu se separar, conheceu uma mulher na sala de espera do consultório e padeciam do mesmo tipo de câncer. Que coincidência é o amor! Apaixonaram-se loucamente e estavam vivendo os melhores momentos de suas vidas.

Dentre muitas questões que o livro levanta, com sensibilidade e sabedoria, existe uma que me marcou mais. Será que somente com a chegada da morte é possível viver de verdade? Será que é necessário que o fim seja anunciado para ter coragem e arriscar (-se)?

O medo chega em momentos desconhecidos, onde há fascínio e mistério, mas traz consigo uma pitada de insegurança. Muitas vezes, essa insegurança nos faz retroceder, reprimir sentimentos, desistir de tentar, voltar à nossa vida calma e segura.

A vida então mostra-se contraditória. Enquanto a temos com a sensação de eternidade, tudo é vivido com calma, com um certo comodismo e na busca constante de estabilidade emocional. Quando ganhamos um prazo, as perspectivas mudam e fica a sensação de jogar tudo para o alto e viver como sempre se quis.

O que você faria se o sol não nascesse amanhã?

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