sexta-feira, 29 de maio de 2009

Menina chorando e menina sorrindo...

Para Isabella:
http://longitudequarentaetres.blogspot.com/2009/05/perdidos-na-selva-de-pedra_27.html

A menina chora e ri.
Chora quando a realidade lhe dá um tapa na cara.
Daqueles bem estalados.
E chora também quando o tapa é no outro
E ela, frágil e impotente, nada pode fazer
Contra a mão pesada que lhe rouba a respiração
A menina sorri quando vê passarinho cantando,
Quando a rosa desabrocha
E quando toma sorvete de chocolate.
A menina sorri quando vê outra menina.
A menina sorri quando vê um cachorrinho serelepe.
A menina sorri. E chora.
E aprende um dia
Que o riso e o choro não apenas coexistem
Mas que a existência de um só é possível
Com o silêncio do outro

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mais de uma verdade que não pode ser banalizada

Há uns dois dias ouvi alguns tiros da minha casa. Hoje, indo ao trabalho, o ônibus em que eu estava bateu com um carro, já bem pertinho. Felizmente, a motorista reconheceu o erro e restou apenas resolver probleminhas burocráticos. Ninguém se feriu ou foi hostilizado. Que sorte! A batida aconteceu em frente a um carro de polícia que prontamente veio checar o incidente. Chegam os três policiais, com armas enormes nas mãos. Mas aquilo um mero detalhe, pois em nada influenciou o trabalho. As armas faziam parte do vestuário, como se fossem meros complementos do uniforme. Armas. Não sei dizer de que tipo, pois não tenho o menor conhecimento. Só sei que eram grandes, pretas e de fogo. Conversaram e se entenderam, e aquelas armas ali, penduradas. Chegando ao trabalho, mais carros de polícia. E mais policiais com aquelas coisas expostas apontadas para quem passasse.

Lembro-me da primeira vez que eu vi algo parecido com isso. Faz muitos anos. Um carro de polícia fazia uma ronda de madrugada pela cidade. Os policiais, com as armas para fora do carro, sem nenhuma razão aparente. Aquilo me chocou, perguntei-me a necessidade daquele show ao vivo e gratuito. E continuo buscando a resposta.

Pergunto-me ainda quantas pessoas ainda morrerão de bala perdida. Quantas terão as suas vidas marcadas por um segundo de horror. Quantas mães, pais, irmãos e amigos enterrarão pessoas queridas sem motivo. Quantos policiais inocentes ainda morrerão pelo simples fato de serem policiais. E quantos policiais mais se deixarão corromper. Pergunto-me quanto vale a vida, se morrer é de graça.

Penso em ir embora. Seria uma fuga talvez, pela própria segurança e bem estar. Mas contesto uma vez mais porque eu tenho que sair viver longe de onde eu gosto e das pessoas que eu amo. Por quê? O que foi que eu fiz para que a situação chegasse a esse ponto? Agora me pergunto o que foi que eu não fiz.

Pergunto-me até quando as pessoas chorarão em silêncio. Pergunto-me como querer ter filhos, se não podemos proteger nem a nós mesmos. Até quando esperaremos que a violência bata à nossa porta para que tomemos alguma atitude. Não encontro respostas, nem explicações.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

(...)

Se doce ou salgado
Se azedo ou amargo
Se frio ou se quente
Se chuva ou se sol
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora

A cada viagem, uma despedida
Encontro e desencontro
Chegada e partida
Uma noite perdida
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora

Se mudo ou se sigo
Se dentro ou se fora
Tem uma parte de mim que ri
E uma parte de mim que chora

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Por um fio

Há alguns anos, eu li um livro do Dráuzio Varella chamado "Por um fio". Nele, o autor relata histórias de seus pacientes com câncer em estado terminal ou com o tempo de vida contado, quando a medicina já não pode fazer muito mais para prolongar a caminhada pela vida.

Uma das histórias que mais me marcou foi a de um homem que descobriu uma traição de sua esposa e decidiu continuar casado. A vida então passou, o casamento nunca foi o mesmo, baseado em comodidade, aparências e sem entrega. Uma ferida que nunca fechou. Depois de receber a notícia de que a sua vida estava chegando ao fim, decidiu se separar, conheceu uma mulher na sala de espera do consultório e padeciam do mesmo tipo de câncer. Que coincidência é o amor! Apaixonaram-se loucamente e estavam vivendo os melhores momentos de suas vidas.

Dentre muitas questões que o livro levanta, com sensibilidade e sabedoria, existe uma que me marcou mais. Será que somente com a chegada da morte é possível viver de verdade? Será que é necessário que o fim seja anunciado para ter coragem e arriscar (-se)?

O medo chega em momentos desconhecidos, onde há fascínio e mistério, mas traz consigo uma pitada de insegurança. Muitas vezes, essa insegurança nos faz retroceder, reprimir sentimentos, desistir de tentar, voltar à nossa vida calma e segura.

A vida então mostra-se contraditória. Enquanto a temos com a sensação de eternidade, tudo é vivido com calma, com um certo comodismo e na busca constante de estabilidade emocional. Quando ganhamos um prazo, as perspectivas mudam e fica a sensação de jogar tudo para o alto e viver como sempre se quis.

O que você faria se o sol não nascesse amanhã?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sobre o turismo da pobreza e o embelezamento da miséria

Não sei bem o que desencadeou o pensamento, se é que pensamentos têm que ser desencadeados. Mas o caso foi que comecei a pensar sobre tipos alternativos de turismo que se fazem mundo afora, inclusive na Rocinha. Achei em uma pesquisa na internet um passeio que custa setenta e cinco reais por três horas de voltinhas dentro de uma das maiores favelas do Brasil. Passeio de jipe para aprender sobre a maneira de viver dos miseráveis retirantes nordestinos, sobre a vida governada pelo tráfico, sobre como viver sem a infra-estrutura nem higiene necessárias para uma vida digna.

Turistas não são antropólogos. São apenas turistas, querendo aprender a cultura, a história ou simplesmente descansar. Antropólogos podem ser turistas, mas turistas não são antropólogos. Enfim, fico confusa com essa história toda. Porque além dos que querem de fato entender alguma coisa nessas três horas sobre a sociedade brasileira, a desigualdade e o tráfico - o que eu duvido que seja possível-, fico imaginando que tipo de fascínio existe em ver de perto o quão triste é a realidade do nosso povo.

Lembrei-me de duas situações ligadas a esse tipo de turismo. A primeira foi quando fui a Amsterdã. Da famosa Red Light zone eu não cheguei nem perto. Por quê? Simplesmente porque não estava a fim de ver meninas e mulheres sendo ofertadas em vitrines como carnes de açougue. Há quem diga que existem putas felizes e que realmente gostam do que fazem. Mas a maioria... A maioria, eu duvido. As pessoas são sentimentos no fim das contas. Existem coisas com as quais nunca nos acostumamos.

A segunda situação foi no México. Em Creel, uma cidadezinha no estado de Chihuahaua. Fizemos o passeio de trem de Los Mochis à cidade de Chihuahua, passando pelos cânions de cobre. Desembarcamos na cidade de Creel, em que aproveitamos para fazer alguns passeios nos dias seguintes. Em um dia visitamos os Tarahumaras, uma aldeia indígena bem pobre como a maioria das aldeias remanescentes. O turismo na aldeia dos Tarahumaras é incentivado pelo comércio de seus artesanatos para ajudar com que tenham uma vida mais digna. É incentivado pela divulgação de suas culturas e seus valores. Há um museu na cidade com a história e costumes. A pobreza foi conseqüência da colonização espanhola. A aldeia não nasceu da pobreza, surgiu de mistérios de muitas teorias, porém nunca desvendados. Não explora a miséria, nem cultua a pobreza.

No dia seguinte, fizemos um passeio que incluía vários pontos turísticos da região. Depois de ver lagos, cachoeiras e muito verde, enfim paramos na última atração do dia. Passamos por uma grade e chegamos a grandes pedras com uma pequena entrada. Quando entramos, eis a surpresa. Uma família vivia ali. No exato momento em que me dei conta, saí daquele lar com náuseas. Quando o guia disse que iríamos visitar uma casa construída sob pedras, pensei que se tratasse de uma forma de construção própria da região. Jamais havia passado pela minha cabeça que uma família miserável, sem ter o que comer ou onde morar, alojou-se entre duas pedras enormes, sem a menor condição de vida. Mãe e filha sorriam para nós e pediam esmolas.

Mas, sem muitos argumentos, não sei exatamente o que me incomoda nessa história toda. Sei que não concordo. Sei que me faz mal pensar em participar e contribuir para esse tipo de turismo. Sei que me dá vontade de correr quando vejo algo parecido na minha frente. Talvez seja apenas questão de valores que eu ainda não tenha conseguido desvendar em argumentos.

domingo, 10 de maio de 2009

(...)º

No julgamento precoce, perde-se a oportunidade de aprofundar-se no novo. Conhecê-lo de perto, devorar as suas veias, desvendar o mistério de seus traços e curvas. Por limitar os conceitos e pela necessidade de classificar, os momentos se vão e se esvaem. A água suja escorre pelo ralo, levando tudo o que poderia, seria, diria. No silêncio da última gota, o 'pode ser' transforma-se em negação e - lentamente - consome toda a energia economizada e tida em vão. Se pudesse, transformaria tudo (tudo) a que eu disse NÃO em ninho.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Quero Encontrar Um Amor

quero encontrar um amor daqueles que não batem
na porta pra entrar
aquele que não exita em espantar a visita que me visitar
que seja um cordeiro e que seja um leão
um bicho do mato e de estimação
e pode ser que me queira
ou me faça dormir na esteira estinda no chão
quero encontrar um amor misto de samba leve com heavy metal
que ponha as unhas de fora
mas no "H" da hora me venha total
que tenha um ar diferente do meu
que seja um canal aberto pro céu
e sempre na geladeira um vinho de primeira roubado da adega de Deus
Roubado. . . ououou
quero encontrar um amor que só tenha motivos para me evitar
algo de fundod e breque um jeitão de moleque, trajes de escolar
Um CDF e um fora da lei
aonde encontro este amor eu não sei
é num barzinho lá em cima ou na próxima esquina
eu só sei que eu encontro o meu bem

(Sérgio Sampaio)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A que vim

Viajar é conhecer mundos, cheiros e temperos. Ver a história acontecer ao vivo, quebrar mitos e ampliar visões. Conhecer, respeitar e amar o diferente. Tirar a armadura e tomar banho de chuva sem preocupações. Desligar da rotina, quebrar paradigmas e refazer conceitos. Ou desfazê-los. Viajar é conhecer mais do outro para conhecer mais de si. É ir até o outro lado do muro e respeitá-lo, ainda que os valores sejam opostos aos seus. Compreender. Viajar é enriquecer a alma e alimentar o espírito de fartas lembranças e experiências. É o investimento que não se esvai, apenas engrandece.

O que mais me encanta em viajar?

*crianças falando outros idiomas ou outros sotaques.
*conversas casuais.
*descobrir o gosto do prato somente quando ele chega à mesa.
*ver a cidade estranha transformando-se em familiar.
*encontrar o cantinho preferido em cada lugar.
*a preparação da viagem, expectativas e sonhos.
*testar novos meios de transporte.
*observar.
*o inesperado e o improviso.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A ti

Te conoci
Como el aire conoce al viento
En un instante se enamora
En el otro se evapora
Por el sencillo lenguaje del alma
Que entre dos miradas se reconoce
El sentido de la ola que se espalma
Y en el mar, el silencio
Solo y sin prisa
Camina por la arena
Breve y grave
El corazón se lo llena
Del pulsar ofegante
De la cumplicidad del amante
De la lagrima de la gran tristeza
Que se diluye jadeante