quarta-feira, 26 de agosto de 2009

(des) apego

E ela decidiu que seria aquela a semana que mudaria a sua vida. A semana do desapego. A semana de livrar-se da roupa velha, da caneta que não escreve, das palavras que nada dizem. Coisas que remetem a coisas do passado, mas que não encontram – afortunadamente – seu espaço no futuro. Ela que teve sempre o hábito de guardar cartas antigas e sentimentos em fase terminal percebe, ao contrário do que sempre pensou, de que, em algum momento, aquilo lhe serviria; decidiu jogar tudo fora, arrumar a casa, deixar as janelas abertas para que o vento levasse para longe qualquer resquício que pudesse sobrar. Na verdade, essas tais coisas, de alguma maneira estiveram sempre presentes e mal não faziam. Talvez não explicitamente. Mas ela decide e continua firme. Bate o pé. E agora o que entra em provação não é o domínio sobre a sua vontade, mas sobre a sua escolha. Levar até o fim algo repentinamente decidido. Ela diz a si mesma o quê e por que. E continua firme.

Por hoje, ela conseguiu.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sexta antes de tudo

E ali estava o casal. O Derby Suave sobre a mesa já denunciava que eram do subúrbio, embora as vestimentas e o penteado já fossem indícios suficientes sobre suas origens. Eles discutiam. Parecia importante. Importante àquela hora da madrugada e depois de incontáveis garrafas de cerveja. Não discutam nesse estado de embriaguez –pensei. Ele levanta e ela bate na mesa. Ele pega o copo e ao perceber que está vazio gentilmente o devolve. Troca algumas palavras com o garçom emo que já ia a seu encontro. Para estar condizente com o tempo frio, o homem de meia idade traz posto um caso com ar juvenil, semelhante aos casacos adidas ou puma. No lugar de adidas, o casaco trazia escrito: “Diâmetro”. Acho graça. Ele senta-se, ela sorri e retornam ao anonimato.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gerenciando diferenças culturais no mundo globalizado

Saiu no globo.com hoje: “Suíça islâmica é proibida de usar adereço na cabeça durante jogos de basquete”. Uma jogadora suíça de crença islâmica foi proibida de usar o seu hijab. Ainda não sei se concordo ou não, simplesmente reflito. Um lenço na cabeça, ainda que faça referência a uma religião, faria mesmo tanta diferença? Causaria manifesto, mal-estar, rivalidade, guerra santa?

Como sempre, alguma história vem à mente. Já estava morando na Cidade do México, trabalhando no Departamento de Compras, em que a maioria dos fornecedores era judia. Estávamos recebendo muitas visitas, pois era época de compras para a próxima temporada. O cumprimento usual era o burocrático aperto de mão.

Um dia como qualquer outro, recebendo um fornecedor como qualquer outro – foi o que eu pensei, eis que eu estendo a minha mão para cumprimentá-lo e fico em um vácuo terrível. Tratava-se de um judeu ortodoxo. Mal-estar! Fiquei mal, não há pior sensação do que ser propositalmente ignorado.

Quem está certo, quem está errado? Ninguém está certo e ninguém está errado. Ao mesmo tempo, não existe um modo de “como agir nesses momentos”. Eu era latina, estava no México onde é sinal de educação e respeito cumprimentar o outro com aperto de mão. Ele, judeu, também estava no México e, por uma questão religiosa, não podia encostar em uma mulher fora do seu núcleo familiar em período menstrual. Na dúvida, não podia encostar em nenhuma. A religião de alguma forma acaba sobrepondo o social.

Respeito. Respeito é algo que deve existir entre culturas. Entendimento e compreensão, ainda que não haja concordância. O fato é que no dia-a-dia tudo isso fica complicado, pois ainda não se sabe como gerenciar essas diferenças na vida prática.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Almoço de sábado

Cena:

Mãe e filha cozinham juntas para o almoço de sábado. Steak de frango à parmegiana. A mãe havia começado e era ela quem comandava o desenrolar dos preparativos.

Mãe: Pode colocar o molho de tomate sobre os steaks.

Filha: Com a concha?

(Risos)

Mãe: Você tinha parado.

Filha: Parado de que?

Mãe: De fazer perguntas idiotas.

(Mais risos. Agora das duas)

Sobre sexta...

Ela estava ali, estirada no sofá sem muita intimidade, pensou em desistir de tudo e ficar ali. Pensou que poderia adormecer e aliviar o cansaço e a tensão de uma semana inteira de maratona cotidiana. Pensou que o show talvez não fosse mais tão importante frente à dormência dos pés, mas principalmente dos pensamentos. Mas como? Ela que controla tudo perderia o controle da noite pré-programada e tão bem arquitetada. Salvo alguns pequenos detalhes, tudo estava sob controle. Ao menos, foi o que ela pensou. Em um salto de atitude, resolveu comprar as tais cervejas. A amiga, ainda mais estirada que ela e sem a menor perspectiva de recuperação diz:

- Pergunta se eles entregam em casa.

Chegando ao bar, ela pediu as cervejas e focou no moço logo ali ao lado que virou um copo inteiro de cerveja cheio de cachaça. Ficou observando aquela cena e esqueceu-se de perguntar. O que era mesmo?

As cervejas se abriram, a música ficou mais alta e, de repente, mais dançante. Os ânimos melhoraram quase que por um milagre. Toma banho, escolhe roupa. Pode? Pode. Pode tudo. Mais cerveja. A noite sorri.

E foi. Dali para o bar. Do bar para o show. Do show para a festa. E da festa pra onde mesmo?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eu sofro de mimfobia.
Tenho medo de mim mesma.
Mas me enfrento todo dia.

(Millor Fernandes)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

So, so...

Hoje bateu síndrome de solidão. E essa música que não sai da minha cabeça. Solidão leve. Não sofro. Não choro. Mas o vazio que me consome. Quero me apaixonar por qualquer coisa. Por alguém. Uma música, um sonho. Um plano que plana. O dia.

É como se a gente
Não soubesse
Prá que lado foi a vida
Por que tanta solidão?
E não é a dor
Que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão...

Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou...

É como se a gente
Pressentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou o medo de ficar
Vazio demais meu coração...