domingo, 19 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

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as paredes brancas trazem lembranças. lembranças de quando ainda eram manchadas. ficaram tão brancas e vazias. o microondas lembra do dia da compra. o suporte, o dia da instalação. até o lustre do quarto cala. também calam as coisas que, pouco a pouco, foram chegando e tomando o seu lugar. as ruas da glória também silenciam as primeiras lembranças do bairro. o anexo. a casa da amiga. a casa da amiga da amiga. o boteco da cândido mendes, quando a banca de jornal estava fechada. o edredon. a cama comprada em dia de copa. o quadro preso na parede permanece estático. só não cala o tic-tac incessante do relógio.

terça-feira, 6 de abril de 2010

chaos

A noite ontem terminou estranha. Parecia mais uma chuva normal, com enchente, tudo a que já estamos acostumados. Ao despertar na terça-feira, ainda chovia. Na televisão, alertas sobre trânsito, a ponte fechada, acessos fechados, deslizamentos de terra. Ligo pro meu chefe e ele ainda está na empresa, desde o dia anterior. Sete mortos confirmados. Ainda chove, chove muito. Pára. E logo volta a chover. E o número de mortos sobe. Sobe mais. Desabrigados. Um pai carregando um bebê de colo com água no meio das pernas. O guarda chuva na outra mão tentava proteger o bebê de colo. São mais de noventa mortos, centenas de desabrigados e feridos. Falta luz, sobra água. Caos. Alerta máximo, dizem. O porteiro que veio a pé de Pendotiba. É longe. E a tristeza que se espalha por toda a cidade. Vidas mudadas da noite pro dia. Desespero e incerteza. E ainda pensa-se em Olimpíadas, Copa, ... Enquanto a vida daquelas pessoas não será mais a mesma. Enquanto faltar luz, comida e uma cama quente pra dormir. Enquanto os que perderam entes e amigos tentam sobreviver à dor, para tentar garantir a própria sobrevivência.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Conversa de salão

Entre o trabalho e mais uma das comemorações de fim de ano, fui ao salão fazer as unhas que já gritavam por socorro. Uma mocinha simpática me atendeu. Branquinha e de olhos azuis e jeito de “quem não é daqui”. Nas primeiras palavras, o sotaque do sul se fez evidente.

É difícil ter assunto com manicures, porque ultimamente estou por fora das novelas, fofocas de artistas e últimas tendências da moda do cabelo. Com algumas, vez ou outra, rolam assuntos interessantes fora desse círculo.

Ontem foi um desses casos. A história era de amor. E eu adoro ouvir histórias de amor.

O sotaque já é uma introdução de quebra-gelo. Veio ao Rio porque namorava um menino do Rio. Casaram-se. Mas como se conheceram? Num site de internet “bagaceiro”, segundo sua própria definição.

Na cidade de onde veio, também trabalhava com beleza, mas em uma clínica de estética que era sua e de sua irmã. Ia andando para o trabalho... Levava dez minutos em uma calçada que era só dela.

Num dia de chuva, as clientes desmarcaram e ela decidiu se aventurar em um site. Naquele momento, ela ainda era Betânia e ele, Daniel. Conversaram, trocaram fotos e começou um contato intenso. Ele iria ao sul conhecê-la, mas, no fim das contas, se enrolou e acabou enviando a passagem para que ela fosse ao seu encontro.

Precavida, pediu todos os documentos do moço e um amigo delegado verificou que era uma pessoa sem passagens policiais. Depois desse encontro, vieram outros tantos durante dois anos, até que veio a proposta de casamento.

Ela mudou de cidade (estado e região) junto com a filha (não quis entrar em detalhes, mas o cara se da super bem com a filha de seis anos, que o chama de pai), deixou de ser dona para ser funcionária em um salão no centro da cidade, encara duas horas em trânsito para ir ao trabalho e mais duas horas para chegar a casa. Mas diz que ele é um achado. E que a vida é isso, tem que viver. E que se tivesse chance de viver de novo essa época da vida, faria tudo de novo.

Contou-me tudo isso enquanto fazia a minha unha, com o belo sotaque de Porto Alegre e um sorriso leve e inspirador.

Sobre o Japao.... I

Contando para o meu primo em Kyoto, ele que é da noite também, sobre como andava a minha viagem pelo Japão.

- Para aproveitar a diferença do fuso, estamos acordando 6am, tomamos café da manhã...e rua. Passeamos o dia inteiro e chegamos de volta ao hotel, já de noite, mal conseguindo andar de cansados...
- Mas, peraí! Todos os dias vocês acordam cedo assim?
- É.... Minha vida é difícil.
- Gente, isso é pior que trabalhar!